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Crítica do documentário "Absorvendo o Tabu, por Júlia Machado

Júlia Machado

Menstruação. O tema ainda é tabu em muitas regiões do globo, sobretudo nas áreas mais afastadas dos centros urbanos. Em uma cidade onde as mulheres não recebem orientação sobre o funcionamento natural de seu corpo, e a maioria da população sequer sabe o que a palavra “menstruação” significa, centenas de meninas e mulheres são impedidas de viver uma vida comum por conta da menstruação. É no distrito de Hapur, a 60 km de Nova Deli, que a cineasta Rayka Zehtabchi conta a história de mulheres que tiveram sua vida transformada assim que passaram a fabricar absorventes higiênicos.


“Não acredito que um documentário sobre menstruação ganhou o Oscar!”, a reação de Rayka estampou a capa de matérias ao receber o troféu da categoria Melho


r documentário de curta-metragem, em fevereiro de 2019, com o documentário Absorvendo o Tabu (Period. End of Sentence).


O documentário foi inspirado pelo The Pad Project, um projeto pensado por estudantes do Ensino Médio da escola Oakwood em Los Angeles, que se uniram para financiar a instalação de máquinas para produzir absorventes em cidades na Índia.


A história começa a ser contada com simples perguntas como “Você sabe o que é menstruação?”. Risos são logo provocados no grupo de meninas que não sabem como reagir à menção da palavra. No grupo de homens adultos, eles questionam se é um período de aula, quando toca o sino, outro já afirma que se trata de uma doença. As mulheres sabiam da relação com a fertilidade, mas encaram a menstruação como algo ruim e quase sobrenatural.


As primeiras cenas caracterizam o ambiente da história, um distrito afastado e conservador, onde a menstruação é um tabu reforçado pela cultura e pela religião. Uma das meninas, conta que após começar a menstruar precisou deixar os estudos por conta da dificuldade em trocar de roupa a todo momento. Outras explicam que não podem frequentar os templos quando menstruadas nem podem rezar a nenhum deus.


A mudança chega com a instalação de uma máquina de produção de absorventes a baixo custo em um vilarejo próximo. O criador da máquina ensina o passo a passo da produção e conta sobre seu desejo de expandir a circulação dos absorventes em toda a Índia.


As mulheres do vilarejo começam a trabalhar, algo inusitado em um distrito interiorano e conservador, e apesar de enfrentarem certa resistência no início, o produto passa a ser mais aceito pelo preço acessível e pela facilidade para comprar, uma vez que não precisam ir ao mercado comprar com homens.


É interessante acompanhar toda a mudança estrutural causada por algo tão banal quanto um absorvente. As meninas que antes tinham que parar os estudos, podem continuar com suas atividades normalmente, e as mulheres que trabalham na produção dos absorventes, ganham mais independência financeira de seus maridos e podem participar economicamente da cidade.


O documentário traz uma linguagem simples, e de fácil entendimento para quem o assiste, contudo, traz uma inovação ao direcionar o olhar para detalhes esquecidos de culturas fora do eixo ocidental.


Para Adriana Izel, do blog do Correio Braziliense “Absorvendo o Tabu é um filme bom para mostrar o quanto ainda há de privilégios no mundo. Mas está longe de ser um documentário perfeito.”


Já para Darshany Loyola da Gazeta Online, “Absorvendo o Tabu é muito mais do que um filme sobre menstruação. São cerca de 26 minutos de uma reflexão profunda sobre patriarcado, feminismo e sobre a importância de olhar para além dos nossos ‘mundos’. Um documentário necessário que mereceu o Oscar.”


Em relação aos aspectos técnicos, o filme não apresenta grandes recursos visuais ou narrativos. Contudo, o documentário traz reflexões muito pertinentes à atualidade e nos faz questionar sobre as vitórias do feminismo, que não se estenderam para todas as mulheres, já que muitas vezes são segregadas por estarem inseridas em culturas mais conservadoras.



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