Desde a ditadura militar, os jovens brasileiros se tornaram símbolo de resistência e protagonizaram diversas manifestações político-sociais. Eles estiveram presentes nos protestos de junho de 2013, na campanha do Diretas Já e dos caras pintadas, que levaram à renúncia do presidente Fernando Collor. Entretanto, nos dias de hoje, é possível perceber desinteresse de parte dos jovens pela política. “Falta de incentivo educacional na participação cívica, decepção e não sentimento de representatividade com o sistema político atual”. Para o estudante de História Hiago Rangel (23 anos), esses são os principais motivos da diminuição do engajamento jovem.
Segundo uma pesquisa realizada nas redes sociais com 94 jovens de Rio das Ostras, cidade localizada na Região dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro, 95,7% acham que política deve ser discutida, mas quando se trata de debates 66% deles preferem evitar as discussões políticas nas redes sociais. 96,8% dos participantes da pesquisa concordam que o engajamento dos jovens na política é importante para sociedade, embora apenas 16% deles estão envolvidos com algum tipo de movimento político-social na cidade.
Entre os envolvidos com movimentos político-sociais está Marcos Vinicius Anchieta (18 anos), ele conta que seu interesse por política surgiu nas aulas de história, quando estava no 8º ano, e que, a partir disso, manteve-se interessado. “Em 2014, no ensino médio, comecei a pesquisar muitas coisas e ler autores, a partir daí me identifiquei com as pautas socialistas e comecei a militar pela educação pública de qualidade e participei de coletivos estudantis na UFF”.
Os coletivos estudantis da UFF costumam se destacar em Rio das Ostras. Lucas Brandão, estudante de Serviço Social, conta que o Coletivo Construção é um espaço que o ajudou a crescer enquanto militante. “O coletivo foi um espaço onde eu amadureci mais, porque tinha discussão sobre tudo. Assim eu comecei a entender mesmo o papel central dos movimentos sociais”, acrescenta Lucas.
O Coletivo Construção é formado por militantes de diversos estados que viram a necessidade de se organizar nacionalmente e fundaram o coletivo de juventude. “Nos inserimos em diversos espaços para dar um direcionamento crítico ao movimento estudantil, tanto na universidade como fora”, declara Lucas Brandão sobre o Coletivo Construção. Segundo o estudante de Serviço Social, o núcleo do Construção de Rio das Ostras é o maior, contando com cerca de 20 pessoas. Os militantes participam de fóruns de juventude do município, disputam as eleições de centro acadêmico, ocupam diversos espaços da universidade e criam projetos de cultura para os jovens.
Mesmo com o envolvimento de alguns jovens na política, a maioria ainda não está envolvida. Os estudantes universitários Arnald Queiroga e Thayná Vigo concordam que os casos de corrupção na política desestimulam as pessoas, as tornando céticas quanto a crença de que ela seria uma solução para um país melhor. Arnald acrescenta, “A falta de estímulo sobre o tema e sua relevância desde a educação básica é um problema. Faz com que prevaleça uma geração apática e isenta sobre os problemas de nossa sociedade”.
Sobre uma possível solução, Hiago Rangel diz que é necessário que a escola tenha mais influência desde o ensino fundamental, incentivando e mostrando a importância da participação cívica, assim, os adolescentes poderão desenvolver uma consciência crítica e política.
Assim, pode-se afirmar que a escola também é lugar de política. Ouvir os jovens é essencial para se construir uma conversa saudável para que se possa gerar interesse no tema, que hoje, muitos adolescentes não têm curiosidade e força de vontade de se envolver. A educação política na escola, seria uma parte essencial para inserir e preparar o jovem para as próximas etapas ao decorrer da sua vida.