Vinte anos após o início do trabalho da concessionaria de tratamento de água e esgoto em Cabo Frio, avanços são perceptíveis. Entretanto, em algumas localidades persiste a falta de saneamento básico, como no bairro São Jacinto.
De acordo com moradores, a ausência de saneamento básico afeta a saúde das crianças, pois elas ficam expostas ao perigo e existem casas não contam nem mesmo com banheiro. “Aqui nós temos a nossa fossa normal com tampa, a gente compra a pipa d’água por R$150,00 praticamente todo mês”, disse Paula Jotta, mãe de nove filhos e moradora do bairro. Em setembro, a família passou mal por beber a única água que havia e tiveram que ser atendidos pelo UPA de Unamar. Preocupada com os filhos, Paula compra toda semana um galão de água mineral que custa R$ 8,00.
Flávia Targa, engenheira ambiental, afirma que São Jacinto é abandonado pelos governos: “É bem carente, então a Prolagos está ampliando a rede de tratamento de esgoto. Mas é algo que está sendo iniciado para essa comunidade, sabe-se que estudos afirmam que 50,3% dos brasileiros não tem acesso a saneamento básico, ainda é uma realidade no nosso município também”. Ela diz que antigamente o bairro era formado por propriedades rurais e atualmente também tem essa característica. “Nessas propriedades o saneamento básico é diferente do saneamento em áreas urbanas e por isso, deve ser revista a situação. Mesmo na área rural deve haver fossa, filtro e sumidouro, mas como São Jacinto é um bairro distante, as pessoas têm menos acesso”, finaliza Flávia.
Na Escola Municipal Pedro Jotha, os alunos estudam sobre as causas e consequências da ausência do esgoto sanitário. Entretanto, em suas casas convivem com a ausência desse serviço básico. Gabrielle Porto de Souza professora de ciências da escola, afirma que está se iniciando projetos sobre o saneamento, buscando informação, pois os alunos não sabem a gravidade da situação e isso acaba prejudicando diretamente a saúde deles.
Sonia Leal de Oliveira, diretora dirigente da escola afirma que o importante mesmo na escola é a água ser tratada, pelo fato das crianças beberem água de qualquer procedência, Crianças mais saudáveis, não faltam às aulas e não tem o seu desenvolvimento escolar afetado. Ainda de acordo com ela, a escola não tem água encanada e recebe caminhão pipa. Sempre que a fossa vaza a instituição chama alguém para limpar: “ Isso é preocupante, pois as crianças ficam expostas ao perigo da contaminação pelo esgoto nos intervalos das aulas”, lamenta Sônia.
Para Flávio Scali, diretor do Departamento de Engenharia da Secretaria de Obras de Cabo Frio, devemos analisar o saneamento de uma forma global: “Tem que separar as coisas, no que tange a questão de esgoto, é nossa rede, a administração municipal não tem atribuição em resolver esses problemas, então a captação e o tratamento, tudo isso compete a concessionária de água e esgoto Prolagos”, declara. Ele afirma que a responsabilidade da prefeitura seria nos casos de vias que não estejam urbanizadas, prover essas vias com condições de drenagem de água pluvial e a pavimentação. “Os problemas de saneamento demandam sempre produção de projetos, viabilidade econômica do município para poder atender essas demandas, com relação ao São Jacinto que eu saiba não há nenhum planejamento nesse momento do município no sentido de fazer qualquer projeto de maior relevância desse bairro”, reconhece Scali.
A Prolagos, empresa da Aegea Saneamento, é a concessionária responsável pelos serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto na área urbana dos municípios de Cabo Frio, Armação dos Búzios, Iguaba Grande, Arraial do Cabo e São Pedro da Aldeia. De acordo com a empresa, o índice de cobertura de água nessa região é de 97,7% e o de esgoto passou de 0 para 79,2%. Em relação especificamente a Cabo Frio, no que se refere ao esgoto, os bairros Guriri, Campos Novos, São Jacinto, Nova Cabo Frio, Vila do Peró e alguns pontos de Tamoios não possuem redes de drenagem pluvial (água de chuva), utilizadas no sistema de esgotamento sanitário Coleta em Tempo Seco.
No meio desse debate sobre a responsabilidade do serviço estão os moradores desassistidos. Nesta situação, as crianças ficam expostas a vários tipos de doenças e é sobre isso que a pediatra na rede pública e privada, a dra. Marilucia Costa esclarece: “Se não tem saneamento, existe a contaminação pelos esgotos, então o que as crianças adquirem verminoses, dar remédio pelo menos de quatro em quatro meses, existe a giárdia que é um verme muito perigoso, que causa a diarreia, há a contaminação por hepatite, por exemplo, a água sem saneamento tipo água de poço, água de pipa, elas podem vir contaminadas com o vírus da hepatite A e a hepatite B, hepatite B se protege na vacinação, mas tem a hepatite A que é a hepatite infecciosa e pode dar essas doenças e outras doenças como a leptospirose”.
Ela diz ainda que existem muitas doenças e que lugar sem saneamento é perigoso para as crianças, principalmente entre 0 e 5 anos, por serem mais vulneráveis a contrair doenças e precisam de água limpa. Nestes casos, a mãe teria que comprar água mineral, para evitar contaminações, os alimentos crus devem ser lavados. “Com essa situação as mães devem procurar o pediatra para os seus filhos mensalmente e tem que tomar um vermífugo e fazer as vacinações do cartão, porque tem a vacina para a hepatite B desde que nasce, e agora as vacinas contra varicela, difteria, sarampo, deve sempre fazer exames, hemograma, exames de fezes e exames de urina”, conclui dra. Marilucia.