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Projeto Pretas e o Coletivo Ônix empoderam jovens negros da Região dos Lagos

André Abrantes e Larissa Lopes

“Uma criança que cresce sabendo que ela não é descendente de escravos e sim descendente de reis e rainhas que foram escravizados, é uma criança com muito mais capacidade de construir um futuro melhor pra si e seus semelhantes”. Quem diz é Rômulo Lima, fundador do Coletivo Ônix. O surgimento dos coletivos de valorização da cultura e do corpo negro se faz necessário no atual momento social e político do Brasil. Os coletivos atuam através de projetos de arte, inclusão, debates e rodas de conversas com o intuito de empoderar os negros, ressaltando as conquistas. Mas, para entender a importância dos coletivos, é preciso conhecer a história do movimento negro que luta há muito tempo por melhores condições para a população negra.

Historicamente, existiu embates contra a opressão a que foi submetida e que remonta ao período colonial, com as fugas, revoltas e a formação dos primeiros quilombos organizadas pelos africanos escravizados, transportados à força e em condições desumanas para a América a partir do século XVI. Graciella Fabrício, doutoranda em história da UFF, comenta: “A luta pela libertação da população negra escravizada perdurou ao longo de todo o período escravista, que, no Brasil, se estendeu até o ano de 1888, quando foi assinada a Lei Áurea, o fim da escravidão legalizada, após séculos de luta, não representou o fim da luta dos negros no Brasil”.

A precariedade da vida dos homens e das mulheres continuou perante a falta de políticas públicas com a finalidade de melhorar as condições de vida dos escravos, agora libertos. “O Brasil entrou em uma nova etapa, quando houve a organização dos negros, com a finalidade de pressionar o Estado para que fossem criadas medidas capazes de promover melhorias materiais para esses trabalhadores”, disse Graciella. No início da República foram organizados grêmios, associações, clubes e jornais que reuniam negros de diferentes categorias profissionais para tratar das mazelas sofridas pela população negra brasileira após o fim da escravidão.

Na década de 1930, foi criada a Frente Negra Brasileira (FNB) que chegou a reunir cerca de 20 mil filiados, os quais tinham acesso à serviços assistenciais, médicos e odontológicos. Em 1936, a FNB se transformou em partido político, fechado, contudo, após o golpe de 1937, que instituiu a ditadura varguista. “As atividades políticas do movimento negro continuaram a ser desenvolvidas mesmo durante a vigência do regime autoritário dirigido por Getúlio Vargas. Foi criado, por exemplo, o Teatro Experimental do Negro que defendia a criação de uma lei antidiscriminatória contra negros”, conta Graciella

Voltando aos dias atuais, a militância negra se torna cada vez mais importante, gerando a autoestima, empoderamento e pensamento crítico aos jovens periféricos e de classe menos favorecida. A participação de projetos ajuda ainda mais nessa formação, mostrando a representatividade de pessoas negras em lugares de poder, com palestras, ensaios fotográficos, teatros e eventos. O Projeto Pretas trabalha com palestras, eventos e festivais que reforçam a cultura negra na estética. “Quando os alunos se deparam com meninas e meninos negros e jovens em posição de fala, de alguma forma eles se sentem representados por verem que os palestrantes são iguais a eles e que também podem estar lá”, disse Juliana Ramos, membra ativa do Projeto Pretas.

O Projeto lida também com a barreira que a criança, que está em formação, cria em relação a inferioridade na sociedade, trabalhando no fortalecimento da personalidade do jovem desde o começo. “Quando as crianças assistem as palestras elas veem que têm

outros meios de se tornar pessoas visíveis. Elas se sentem representadas e consequentemente aumenta a autoestima”, afirma Juliana.

Mas é importante também atingir adultos que passam por falta de representatividade na mídia. O Coletivo Ônix que tem como criadores, além do Rômulo Lima, Talytha Selezia, surgiu da necessidade de dar voz a artistas que são silenciados por pessoas do próprio meio artístico e pelo próprio poder público e assim criar uma rede de comunicação de artistas da região de Cabo Frio. Rômulo explica “Já é difícil ser valorizado e respeitado como artista e como artista negro é duas vezes pior. Nós literalmente vivemos essa dificuldade na pele e embora o coletivo seja inter-racial, nós precisamos atuar com o intuito de dar protagonismo a pessoas como a gente”.

O Coletivo atua, também, no empoderamento da história do povo negro. “Levando em consideração que a história de nossa ancestralidade nos foi roubada, é de extrema importância que a negra e o negro tenham acesso à informações sobre seus semelhantes”, argumenta Rômulo.

Quando se fala em educação e valorização da memória da luta negra, Rômulo é pragmático “vivemos em uma sociedade onde muito se valoriza o antigo, por assim dizer, filósofos antigos, religiões antigas, contos de fadas e guerras passadas. Para nós, um povo sem historia é um povo fraco e é exatamente esse pensamento que tentam impor para os negros e negras que nascem no Brasil, um país racista até em sua educação.”


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