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Caminhos para combater a ditadura - movimentos estudantis em 1968 a morte de Edson Luís

Karolyna Prá

Dizem que o ano de 1968 ainda não terminou. Ainda que passados cinquenta anos, muitas questões da época ainda não estão resolvidas.

Em um período em que o Brasil se encontrava em um segundo governo militar após o golpe de 1964, com a posse do general Artur Costa e Silva, a primeira coisa que os militares fizeram, no dia seguinte ao golpe, foi fechar e cercear as organizações e manifestações estudantis, como a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, a UBES, e a União Nacional dos Estudantes, a UNE. Desta forma, todo e qualquer protesto estudantil questionador ao regime era reprimido.

Com a deflagração do Ato Institucional número 5, o AI-5, momento em que o governo colocou um ponto final na movimentação e inquietação política do povo, os estudantes insistiam em manter o seu direito de liberdade de expressão. Marcavam protestos relâmpagos, apanhavam e resistiam.

Edson Luís de Souto Lima, de 17 anos, saiu de Belém (PA) para cursar a escola técnica no Rio de Janeiro. Filho de lavadeira, ele fazia bicos de faxina para se manter e comia no restaurante central dos estudantes, o restaurante Calabouço, no centro do Rio de Janeiro. Edson fazia parte da Frente Unida dos Estudantes do Calabouço, a FUEC. O grupo buscava melhores assistências estudantis, e no dia emblemático de sua morte, dia 28 de março de 1968, os policiais tentavam reprimir um protesto pela qualidade e preço da comida no restaurante Calabouço. Edson morreu com um tiro no peito, disparado à queima roupa por um soldado da Polícia Militar. Benedito Frazão Dutra, outro estudante também ferido à bala, foi levado ao hospital mas não resistiu aos ferimentos, e morreu após um período em coma.

A autópsia de Edson foi feita no próprio local, e os estudantes resgataram seu corpo e o carregaram em passeata pelo centro do Rio, até as escadarias da Assembléia Legislativa, na Cinelândia, onde foi velado.

A cidade do Rio parou no dia do enterro. Cerca de 50 mil pessoas estavam presentes, munidas de cartazes em protesto a sua morte. “Mataram um estudante. Podia ser meu filho.” Os cinemas da Cinelândia amanheceram anunciando três filmes: “A noite dos generais, “À queima roupa e “Coração de luto.” Diante de muita comoção, Edson foi enterrado ao som do hino nacional brasileiro, cantado pela multidão.

No dia 4 de abril, foi realizada a missa de sétimo dia de Edson Luis, na Igreja da Candelária, onde a repressão aos protestos foi violenta. Ao término da cerimônia religiosa, as pessoas que deixaram a igreja foram cercadas e atacadas pela cavalaria da Polícia Militar a golpes de sabre. Dezenas de pessoas ficaram feridas.

O aspirante a polícia Aloisio Raposo Filho, apontado como autor do disparo, ficou impune, após o laudo pericial do Instituto de Criminalística constar que a bala não foi disparada na direção do estudante, mas ricocheteou na parede e atingiu o peito de Edson Luis. Aloisio chegou ao cargo de coronel da Policia Militar. O restaurante do Calabouço foi fechado após as mortes e nunca mais reabriu.

Para Pedro Gorki, estudante e presidente da UBES em São Paulo, “Edson Luis vive em nós. Todos os anos, no mês de março, nós da UBES juntamente com a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a ANPG (Associação Nacional dos Pós Graduandos) organizamos a Jornada Nacional de Lutas, em homenagem ao Edson, nosso estudante secundarista. Tentamos preservar a sua memória e também apresentamos as nossas reivindicações, para dialogar com diversos setores da sociedade. Sem dúvidas, o Edson está presente.”

Fundada em 1948, a UBES permanece em atividade e conta atualmente com a participação de vários grêmios e associações estudantis, a níveis municipais e estaduais. Reivindica a reformulação do ensino médio, mais democracia nas escolas, o fim do machismo, do racismo e da homofobia no ambiente escolar e mais assistência estudantil.


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