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Crítica do álbum “Lado A Lado B”, por Raphael Mureb

Raphael Mureb

Lado A Lado B” (Warner Music, 1999.), terceiro disco de O Rappa, vem cercado de críticas sociais, dubs, scratches e um violão inspirado no característico toque de Jorge Ben Jor, um dos inspiradores do baterista Marcelo Yuka. O álbum, com linguagem carioca, traz, ao longo das suas 12 faixas, um rock experimental com pitadas de rap, reggae e samba. Com destaque para as faixas Minha Alma e Tribunal de Rua.

O disco posiciona a banda socialmente, tendo em vista o conturbado momento que o Rio de Janeiro vivia no fim dos anos 90, e dá voz aos marginalizados, denunciando as opressões sofridas e as cisões sociais, seja por classes, seja por facções rivais. Carolina Marcello, mestra em estudos culturais, literários e interartes pela Universidade do Porto, afirma, em crítica para o site Cultura Genial, que Minha Alma mostra um eu poético que luta contra a segregação social usando a própria identidade como arma.

Capa do disco "Lado A, Lado B

“Aqui, a mensagem de agressão é subvertida: em vez de segurar um revólver, a arma que o sujeito tem para combater é a própria essência, sua identidade. O alvo é o ‘sossego’, o silêncio que é socialmente aceitável e encorajado, a norma que cala todos que sofrem e são discriminados. É essa ‘paz sem voz’ que está sendo denunciada, porque não se trata de uma paz verdadeira, mas de um sintoma do medo e da repressão. Os cidadãos que sofrem preconceito não são escutados e a sociedade age como se não tivessem o direito de falar, de reclamar, de usar a sua voz. “

Tribunal de Rua, faixa de abertura da obra, é um rap urbano que retrata um outro tipo de violência que atormenta o dia a dia de quem mora em comunidades - a violência policial. A música conta uma abordagem policial truculenta, demonstrando ser fato comum no bairro. O autor relata a corrupção policial (“Que te agride e ofende para te levar alguns trocados”), o racismo intrínseco (“Estar acima do biotipo suspeito/ Mesmo que seja dentro de um carro importado”) e a truculência contra o suspeito (“E me viu único civil rodeado de soldados/ Como se eu fosse o culpado”).

Segundo Gabriel, crítico do portal ArbítrioCast, a canção escancara a fragilidade da democracia nas comunidades pobres.

- Ouso dizer que Tribunal de Rua é uma das minhas músicas favoritas do Rappa, principalmente por causa da letra, que aborda a temática da violência policial, sempre atual, infelizmente. Yuka faz uma brincadeira interessante ao misturar a religiosidade, muito presente em todas as letras desse disco (encruzilhada, Santo Graal, devoção) com o tema central desta letra, que é a fragilidade da democracia nas comunidades mais pobres. Se matam, violam e desrespeitam pessoas com uma facilidade incrível e a letra faz esta denúncia. Se o momento nacional político a democracia se encontra ameaçada, na favela ela já foi violada há muito tempo (se é que existiu). Músicas como Tribunal de Rua são boas para relembrar isso, ainda mais nesse momento atual. O tribunal de rua matou, mata e matará inúmeras vidas, infelizmente. Define o Crítico.

Com produção de Chico Neves e do baixista americano Bill Laswell, que ficou responsável por “Lado A Lado B” e “Na Palma da Mão”, Lado A Lado B extrai a multicultural melodia das favelas cariocas. E com uma sonoridade experimental e pesada, mas com forte apelo popular, ganhou status de hinos que transcendem gerações.


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