“A arte de Maria Bethânia Vianna Telles Veloso é indissociável de sua própria vida. No palco, a entidade Maria Bethânia, impenetrável e misteriosa, enigmática criatura percorrendo a cena aberta como quem celebra a força dos deuses.” Assim é definida a artista Maria Bethânia pelo crítico, pesquisador e professor de literatura brasileira na PUC-Rio, Júlio Diniz.
A baiana nascida em 18 de junho de 1946, na cidade de Santo Amaro da Purificação, veio ao mundo para brilhar e acima de tudo, encantar as pessoas com a sua simplicidade e ao mesmo tempo poder, o qual demonstra quando coloca os pés no palco.
Foi aos 18 anos que a “abelha rainha”, encarou um batismo de fogo: substituir Nara Leão no espetáculo "Opinião", em plena ditadura militar. Nesta grande missão, uma menina interiorana mesmo com as pernas bambas encarou com a força de um "Carcará" e firmou seus pés onde estava destinado.
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Quando no palco, Bethânia deixa o público paralisado para ver e ouvir as quatro forças da natureza se encontrar apenas numa voz, num corpo que emana luz ao girar em seu próprio tempo.
Em 2010 foi gravado no Vivo Rio, uma das maiores apresentações de Bethânia, alcançando sucesso não só no Brasil como também na Europa. “Amor, festa e devoção” para a artista não foi simplesmente um título para divulgar o seu álbum, mas sim palavras que norteiam e traduzem o que é esperança e caridade, que de acordo com a cantora são as características fortes de sua mãe, Dona Canô.
Maria abre seu show caminhando no chão salpicado por rosas, com a canção que invoca sua devoção maior: Santa Bárbara, também conhecida nas canções de Bethânia, como “Rainha dos Raios”. Sobe no palco e a sua voz surge invocando a sua fé maior: “Minha Santa Bárbara, Senhora de mim, luz que alumia esse povo bom da Bahia, nos livre das tempestades desse mundo. Dos raios dessa vida, nos proteja. Dona das rosas vermelhas, Soberana divina, que assim seja.”
Além da música, a artista brilha unindo também a arte do cênica, que de acordo com o jornalista, crítico de teatro e especialista em música popular Nyldo Moreira, “ouvir Maria Bethânia é um momento de apreciar os acordes serenos, de sertão, de terreiro e de carinho, é um instante de saudade e prospecção daquilo que sentimos sempre e chama-se amor.”
Formado por 36 faixas, como “Encanteria”, “Reconvexo”, “O que é que é” e “Saudades”, o cd e dvd inserem sucessos de Chico Buarque, Caetano Veloso, Lamartine Babo, Vinicius de Moraes e outros que tem presença garantida em suas apresentações. Enfim, é mais do que uma festa no palco, é serenidade e delicada poesia.