Crítica da série "Santa Clara Diet", por Priscila Silva
- Priscila Silva
- 14 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Não é mais um programa de culinária e muito menos de competição na cozinha. A série cômica “Santa Clarita Diet” (EUA,2017) exibida pela "Netflix", veio com a missão de mudar o conceito do bizarro trazendo um tom mais leve ao mostrar cenas que em filmes de terror seriam consideradas de fato “nojentas” e aterrorizantes. "Santa Clarita Diet" é criada e produzida pelo roteirista americano Victor Fresco, veterano da TV americana e criador da aclamada “Better Off Ted” e de “My Name is Earl” e eventualmente de “ALF” e “Família Dinossauro”.

O enredo acontece na pacata cidade Santa Clarita, na Califórnia e retrata a vida de um casal de corretores de imóveis, Joel (Timothy Olyphant) e Sheila (Drew Barrymore). Eles tem uma filha adolescente chamada Abby (Liv Hewson) e vivem uma rotina normal, onde enfrentam problemas no dia-a-dia, trabalham, lidam com a concorrência no mercado imobiliário e convivem com a intromissão de vizinhos evitando contatos, apenas o necessário.
Mas no primeiro episódio, numa visita a um imóvel, onde Joel e Sheila levam um casal para conhecer uma residência, acontece um imprevisto embaraçoso. Num quarto bem decorado, com tapetes caros e cortinas brancas, Sheila tem um mal-estar, acaba vomitando uma quantidade anormal em cima do tapete e vem a constranger e espantar rapidamente os clientes que ali estavam.
Depois desse dia, a vida da família muda totalmente. Sheila que antes era uma mulher considerada normal para os padrões da sociedade se transforma numa “morta-viva” ou zumbi como conhecemos nos filmes de terror, pelo simples fato dela agora estar numa dieta bastante diferente, onde só é aceita carne, mas não é qualquer uma, e sim humana! Casados há 23 anos, Joel se vê num dos maiores desafios do seu casamento, lidar com uma esposa sedenta por sangue e carne de pessoas.
E é também no primeiro capítulo da primeira temporada que exibe a personagem Sheila comendo o personagem Gary, também corretor de imóveis e colega de trabalho que demonstra ser um tanto inconveniente nas suas abordagens à quando intercepta Sheila no jardim de sua casa com incessantes investidas, assediando-a. E é nesse momento que desperta a fome que estava adormecida da personagem “morta-viva”, que sem controlar os seus “novos” instintos ataca como um animal feroz a sua presa. Podemos considerar Sheila como uma zumbi do bem, justiceira porque escolhe para matar e comer apenas pessoas desprezíveis, ruins e que de alguma forma não irão fazer falta para a sociedade.
Serão exibidos órgãos humanos e muito sangue com naturalidade, soando estranho e nojento. Nem em filmes de extremo terror vemos personagens se deliciando com dedos humanos como se fossem batatas fritas e bater no liquidificador pedaços de carne e tomar como se fosse uma vitamina nutritiva. A série mesmo com tamanha audácia em chocar os que assistem, ela também nos coloca num clima envolvente sempre embalada com uma música de fundo animada, esta que foi produzida com uma leveza disfarçada na trilha instrumental por Jeff Russo que naturalizou o aterrorizante.

“Santa Clarita Diet” está dividida em 3 temporadas, cada uma com 10 episódios. De acordo com o crítico de cinema e literatura Guilherme Coral, a divisão dos capítulos foi um grande acerto do roteirista “Um dos pontos interessantes do roteiro é como Victor Fresco não tem medo de se livrar de personagens: verdadeiramente, ninguém está a salvo da fome animal da protagonista e isso traz o doce sabor do inesperado ao espectador. A constante quebra de expectativa em episódios, que seguem uma linha narrativa coesa e sem muitos devaneios, nos mantém atentos do início ao fim. A curta duração de cada capítulo (apenas trinta minutos) nos deixam com um gosto característico de quero mais, por mais que a série acabe tropeçando em alguns de seus exageros, mais especificamente quando sai do humor negro e tenta outro tipo de humor, que simplesmente não se encaixa bem com sua proposta.
As duas primeiras temporadas são mais sangrentas e envolvem cenas difíceis de “engolir”, já a terceira e última temporada, como explica o crítico do Observatório do Cinema, João Felipe Marques, há mais interações entre os personagens, “Santa Clarita Diet sempre se mostrou mais interessada em ilustrar suas metáforas sobre vidas corriqueiras e espontaneidade, apesar das circunstâncias grotescas e de suas brincadeiras com o sub-gênero de “zumbis”. Em comparação com o primeiro ano, onde a exposição deste universo era feita “de dentro para fora” (onde vamos descobrindo novos elementos com o mesmo ritmo do casal), a série já se dispõe a revelar outros lados de sua mitologia com mais abrangência, mas nunca deixando de prezar a integração de suas excentricidades nas interações mundanas de seus personagens.”
Uma comédia “bizarra”, Santa Clarita vem para questionar padrões impostos pela sociedade e nos faz refletir o que de fato nos assusta na vida real. Mostra que uma família pode se manter unida e combater às adversidades de uma “nova” vida, mesmo quando essa seja infinita.
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