Afinal, a liberação progressiva de agrotóxicos pelo Governo Federal pode contaminar a água distribuída nas torneiras dos brasileiros?
No imaginário popular, a água está intimamente ligada à saúde e ao bem-estar. É inimaginável pensar uma rotina saudável e equilibrada sem a presença da água. Mas, e quando um bem tão precioso e tão necessário para a vida se contamina?
Vinte e sete agrotóxicos foram testados e encontrados na água distribuída em 1300 municípios brasileiros. Foi o que concluiu a pesquisa “Por Trás do Alimento”, divulgada este ano pelos veículos Repórter Brasil, Agência Pública e Public Eye que estudou dados de 2014 a 2017 do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde.
O estudo das agências gerou um mapeamento do quão contaminada por agrotóxicos está a água que sai da torneira dos brasileiros.
Alvo de discussões até mesmo na Câmara dos Deputados, em Brasília, a pesquisa promoveu a reflexão sobre os impactos que o uso de agrotóxicos pode gerar além da frequentemente discutida produção de alimentos no campo.
A indústria de agrotóxicos tem recebido do Governo Federal autorização para produzir mais pesticidas. De acordo com levantamento do Greenpeace, o número de agrotóxicos liberados por ano disparou, de forma alarmante, após a transição do governo Dilma Rousseff para Michel Temer e cresceu, ainda mais, com a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto.
O QUE DIZEM OS AGRÔNOMOS
A engenheira agrônoma Flávia Targa Martins explicou à reportagem que a contaminação da água bruta por agrotóxicos acontece muito e pode gerar prejuízos para a fauna e flora. Porém, é difícil acreditar que essa contaminação aconteça após o tratamento da água por conta dos rigorosos processos como a floculação e sedimentação, que, em tese, garantem a potabilidade da água.
Um dos problemas do uso do agrotóxico no Brasil, segundo Flávia, está na falta de fiscalização do comércio ilegal de alguns produtos.
“Não existe uma quantidade de agentes suficiente para a fiscalização. Nosso país é fraco de fiscalização. Até nas lojas que vendem os produtos, às vezes, não tem o responsável técnico. Se não existe esse profissional, eles vendem de forma clandestina, aí já perdemos o controle”, disse a engenheira.
Quanto à liberação de mais agrotóxicos, Flávia, mais uma vez, cita a ilegalidade, que também é recorrente na entrada dos tóxicos no país.
“Existe um mercado grande de agrotóxico, que é clandestino, que entra pelo Paraguai, por exemplo, que a gente não tem controle nenhum de que produto é e qual a toxicidade. Isso acaba prejudicando o controle do que está sendo liberado”, complementou a engenheira.
O QUE DIZEM OS RESPONSÁVEIS PELA ÁGUA?
A reportagem procurou o Ministério da Saúde para saber se a liberação de agrotóxicos não pode acabar comprometendo a qualidade da água distribuída no Brasil. Ainda não tivemos resposta, mas a matéria será atualizada assim que elas chegarem.