Apresentações de dança de salão. Na esquerda, Elis e Mairon; na direita, Lu e Mairon. Foto: Arquivo pessoal.
“Dançar sempre foi o meu sonho”. Essa é a declaração de Elis Develly de Castro Lombardelli, de 33 anos. Elis nasceu com síndrome de Down e desde pequena mostrava interesse pela dança. Com vontade de viver esse sonho pediu para a mãe matriculá-la em uma aula. Iniciou a sua paixão em 2011, mas, devido a paradas cardíacas e cirurgias que foram necessárias, teve que adiar o sonho. Entretanto, quando se recuperou, voltou a dançar no começo de 2014 e, desde então, não parou mais.
Com Ana Luiza Victorino Machado, de 24 anos, e que também tem síndrome de Down, a história foi um pouco diferente. Segundo a mãe de Ana Luiza, a filha sempre gostou muito de música e de dançar, mas foi somente quando estava para completar 15 anos que ela passou a fazer aulas de dança. A iniciativa não saiu por parte da menina e, sim, da sua madrinha Cristina Sherman, que a incentivou para dançar na sua festa de debutante. Com o apoio de toda a família, Lu se rendeu para uma de suas paixões e encontrou na dança a sua identidade.
“Luiza tem quatro irmãos. Ela sempre era conhecida por ser a irmã de alguém, a filha de fulano. Com a dança, ela passou a ser conhecida pelas pessoas, a ser chamada de dançarina. Conheciam por ser ela”, conta Mariza Victorino Machado, mãe da Lu.
Uma pessoa foi muito importante para que esses dois sonhos se realizassem. Professor de dança desde os 13 anos, Mairon Demarchi viu nas meninas grandes talentos e paixão pela dança. Atualmente, com 25 anos, Mairon é dançarino, coreógrafo e está terminando a faculdade de Engenharia de Produção. O seu contato com o mundo das coreografias vem desde pequeno. Foi através da mãe, Rosa Demarchi, que também é dançarina e tem uma companhia de dança em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio.
“Eu danço desde os seis anos e aos 13 comecei a dar aulas de dança profissionalmente. Foi um processo natural, desde muito novo eu auxiliava nas aulas de minha mãe”, disse o jovem professor.
Para Mairon é muito gratificante e de grande responsabilidade ensinar pessoas com síndrome de Down. E toda a atenção e dedicação que ele dá para elas são reconhecidas pelas mães dos alunos.
“Ele consegue fazer um trabalho maravilhoso com eles (alunos com síndrome de Down), e é nítido o quanto são mais felizes depois que começaram a dançar com o Mairon”, afirma Ila Develly de Castro, mãe da Elis.
Apresentação com as meninas que têm síndrome de Down. Vídeo: Arquivo pessoal.
A própria Elis conta que o seu sonho é a dança, e com Mairon isso se realizou.
“É com muito prazer que eu danço com Mairon, muito carinho. Eu gosto muito dele. Eu adoro dançar muito, e ele é o meu professor mais querido do mundo”, disse ela emocionada.
Ila concorda com a filha e ainda conta como a dança faz bem para a Elis. “Com a dança, a autoestima da Elis foi no céu. Ela gosta, e não é tímida. Guarda as coreografias com muita facilidade. Se errar, não desce do salto e continua. Ela tem uma segurança absurda”, afirma.
Elis e Mairon depois de uma apresentação de dança. Foto: Arquivo pessoal.
INÍCIO DA INCLUSÃO
Ana Luiza foi a primeira aluna com síndrome de Down que Mairon coreografou. Na época, ela iria fazer 15 anos e ele tinha 16. Depois dessa oportunidade, outros alunos com deficiência surgiram. Dessa forma, eles foram os pioneiros num projeto de inclusão com jovens de necessidades específicas na dança de salão em Cabo Frio.
“No dia da festa dela, todos se emocionaram quando a viram dançar porque era uma coisa que ninguém esperava. Três meses depois do aniversário, a Luiza e o Mairon ficaram em 3º lugar no Festival Internacional de Dança de Cabo Frio. E não foi na categoria especial e, sim, na regular, onde competiam pessoas sem deficiências. Ele faz com que ela cresça, tudo que ela é, o que ela alcançou, toda a identidade que ela construiu através da dança, a gente deve a ele e a Cia de Dança Rosa Demarchi”, relata a mãe de Ana Luiza.
Com carinho, Lu conta sua experiência. “Eu tô feliz com a dança. A dança pra mim é tudo de bom, eu adoro dançar. Quem me ensinou foi o Mairon. Dançar é minha vida”, confidenciou ela.
Lu e Mairon durante apresentação de dança na festa de debutante dela. Foto: Arquivo pessoal.
Atualmente, Mairon dá aulas para um grupo de oito pessoas com necessidades específicas na academia de dança da mãe. São sete meninas e um menino. Para o jovem professor é como um trabalho normal.
“Eu encaro da mesma forma como trabalho com os meus outros alunos que não têm síndrome de Down. O trabalho em si é muito gratificante. É muito legal essa troca e perceber que eu tô fazendo a diferença na vida deles, assim como eles também fazem na minha”, ressalta o professor e coreógrafo.
DANÇA COMO ESPORTE
Em pesquisa realizada por Tim Watson, professor de fisioterapia da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, foi comprovado que o balé é o esporte mais completo do mundo, superando até mesmo a natação. Os bailarinos apresentaram resultados melhores em sete de dez quesitos de condicionamento físico. Entre eles: maior equilíbrio corporal e psicológico, salto à distância, salto em altura, porcentagem de gordura corporal e flexibilidade.
Além disso, a dança de salão também é conhecida como dança esportiva e faz parte dos Jogos Mundiais, que acontecem de quatro em quatro anos. A modalidade é reconhecida como esporte olímpico desde 1997 pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). E a cada ano tem ganhado mais espaço entre os seus admiradores. Por isso, os comitês de dança de salão internacional continuam lutando para incluir o esporte nos Jogos Olímpicos.
“A dança transborda arte, entretanto, também é um esporte. Ela trabalha diferentes grupos musculares, além de existir competições específicas de dança”, declara Mairon.
Mairon é finalista da Preliminar Tango Brasil, além de atual campeão do Prêmio Desterro em Florianópolis. Foto: Arquivo pessoal.
RITMOS DA DANÇA DE SALÃO
No Brasil, os ritmos mais praticados na dança de salão são: forró, samba de gafieira, zouk, soltinho, salsa, bolero, bachata, tango e kizomba. As alunas Ana Luiza e Elis também têm as suas preferências.
“Eu gosto de zouk porque eu balanço o cabelo, faço passos diferentes. Eu adoro as músicas do zouk”, conta Lu.
Já Elis prefere outro estilo. “Eu gosto mais do bolero. Bolero é mais bonito e romântico”, responde ela.
Seja o zouk ou o bolero, a prática de um exercício físico é importante. Segundo o portal Movimento Down, a atividade física ajuda a diminuir os fatores de risco de doenças cardiovasculares, dos distúrbios do aparelho locomotor e até mesmo da depressão e ansiedade, condições que muitas vezes afetam as pessoas com síndrome.
“A dança traz diversos benefícios, tanto para o corpo quanto para a mente. Além de ser um meio que torna as pessoas independentes e atuantes na comunidade”, finaliza Mairon.
Com tantas vantagens, o que está faltando para você levantar do sofá e cair na dança como as meninas Ana Luiza e Elis? Oportunidades são o que não faltam, seja em casa ou em uma academia, o importante é se exercitar. Para conhecer mais o trabalho do Mairon na Cia de Dança Rosa Demarchi é só acessar os links abaixo.
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