Foto: reprodução/site Tinder
Da década de 1980 até meados dos anos de 1990, era comum ouvir anúncios nas rádios, entre uma melodia e outra, com o nome e número de alguém que estava buscando conhecer uma pessoa para se relacionar.
Como era no rádio, obviamente não havia fotos para curtir ou um perfil prévio para visitar. Quem estivesse interessado, bastava entrar em contato com o telefone informado. Desta forma, eram construídas as relações à distância daquela época.
No início dos anos 2000, com o surgimento de novas tecnologias da comunicação e, principalmente, com o advento da internet, a maneira de se relacionar tem evoluído a cada dia.
Atualmente, as relações estão mais instantâneas e é possível que um indivíduo se relacione com outro utilizando apenas uma rede social ou aplicativo de relacionamento.
Essa evolução possibilita que nenhuma distância seja tão grande que não possa ser alcançada por meio de poucos cliques e alguns bytes de internet para se manter “logado”.
Além de relacionamentos amorosos, dessa forma, qualquer pessoa pode conhecer culturas e amigos de qualquer parte do mundo.
A universitária Emely Cardoso Fonsêca, de 21 anos, conta que conheceu, há cerca de um ano e meio, pela internet, um paquistanês que hoje é seu amigo.
“A amizade começou porque ele procurava uma outra amiga brasileira, que subitamente sumiu. Então, ele me procurou para tentar ter notícias dela, já que estudávamos na mesma universidade”, explica Emely.
Os laços criados pela internet são os mais populares da atualidade e, por mais que este tipo de relacionamento esteja mais comum a cada dia, ainda desperta curiosidade e uma certa preocupação, principalmente de pais e responsáveis, por se passarem em um ambiente on-line.Quaisquer encontros são possíveis na frente da tela de um aparelho tecnológico.
No mundo on-line, as barreiras que dimensionam a distância entre o universo material e o virtual são quebradas. Com isso, o real se torna relativo nas redes e as relações consideradas reais são aquelas em que uma pessoa se sente suficientemente ligada a outra para lhe dar a real importância.
Juliana Carvalho, de 18 anos, conta que manteve uma relação virtual durante dois meses com um rapaz até decidir que era a hora de conhecê-lo pessoalmente.
“Nos conhecemos através do Facebook, foi lá que começamos a conversar. Depois o relacionamento virtual evoluiu para um namoro que durou dois anos e meio”, conta Juliana.
Mas, afinal, são todos os relacionamentos virtuais que devem ser levados também para o âmbito do presencial?
“Ir para uma relação presencial é uma aposta que ambas as partes precisam fazer sabendo dos riscos, das perdas ou ganhos”, alerta a psicóloga Juliana Tempone.
A Emely contou que prefere a amizade presencial e que é muito adepta a esse tipo de relacionamento, porque gosta de abraçar seus amigos, mas explica que nem sempre isso é possível e, nesse caso, a internet ainda é a melhor forma de aproximação.
Ela e o amigo paquistanês nunca se viram pessoalmente. Além da distância física, também existe uma grande contraposição cultural.
“Eu adoraria conhecê-lo, mas, ao mesmo tempo, esse encontro hipotético gera um receio, já que ele é muçulmano, então a diferença cultural é muito grande e as divergências já aparecem ocasionalmente através da conversa online. Por isso, acho que eu ficaria pisando em ovos se nos encontrássemos pessoalmente”, diz a universitária.
Com os dispositivos que acessam as redes sociais cada vez mais acessíveis e presentes, as pessoas estão a cada dia mais conectadas. Portanto, se comunicar e conhecer pessoas a todo momento e de todos os lugares acaba se tornando algo intrínseco no dia a dia de grande parte da sociedade, independentemente da idade.
Em meio a toda essa tecnologia, surgem as preocupações, mas também surgem relacionamentos saudáveis e duradouros.
Terezinha Dias Ribeiro, de 32 anos, conta que conheceu seu atual namorado em um aplicativo de relacionamento chamado Lovoo e o namoro deles já dura cerca de dois anos.
Mas não se engane! Nem tudo o que dizem na internet é verdadeiro. Por trás de uma tela, qualquer um pode ser o que quiser, dizer o que melhor se adeque à imagem que será apresentada e escolher entre ser verdadeiro ou montar um personagem.
A psicóloga Juliana Tempone alerta também para alguns cuidados que devem ser tomados ao se relacionar pela internet. De acordo com ela, é necessário ter responsabilidade sobre os seus próprios limites e pelos limites dos outros, ter autocuidado, verificar se a pessoa do outro lado não é um perfil falso e marcar encontros em locais públicos, caso a relação evolua para o estágio presencial.
As relações virtuais atingem uma gama de possibilidades de relacionamentos que vão desde a normalidade até a patologia.
Seja por medo, insegurança, timidez ou até mesmo por questões econômicas, os relacionamentos de amizade ou de finalidade amorosa, que têm origem na internet, acontecem com muita frequência, o que pode acarretar em alguns distúrbios, principalmente de comportamento, caso o indivíduo opte por manter qualquer tipo de relação somente através do meio virtual de comunicação.
Em alguns casos, essa modalidade de relação inclui não somente crises sérias de ciúmes como também, principalmente nos casos de namoro, longas discussões que podem ser prejudiciais para o relacionamento e para a saúde mental dos envolvidos.
Juliana Tempone considera que as relações virtuais têm a capacidade de potencializar a intensidade e a velocidade do que existe nos relacionamentos presenciais.
Portanto, se uma pessoa já tem um histórico de agressividade, ciúme excessivo e outras características do gênero, essas condições podem ser agravadas quando o indivíduo está em um relacionamento pela internet. Isso se dá por diferentes fatores como, por exemplo, a falta de contato físico. Essas características tendem a ser potencializadas e o que era para ser uma relação saudável pode se tornar algo desconfortável.