Depois de décadas, os casos de sarampo e outras patologias aumentam no país
Em 2016, o Brasil recebeu o Certificado de Eliminação da circulação do vírus do Sarampo, concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Com essa declaração a doença se tornou a quinta prevenível por vacinação a ser erradicada das Américas, depois da varíola em 1971, da poliomielite em 1994, da rubéola e da síndrome da rubéola congênita em 2015. Mas, 3 anos depois dessa conquista, em 2019 o Brasil perdeu o certificado após a confirmação de um caso no Pará.
O professor Fernando Bellissimo, do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ribeirão Preto da UPS, em uma entrevista à rádio USP, diz que a perda do certificado significa que o Brasil retrocedeu, “já a algumas décadas que a gente não tinha a livre circulação desse vírus no país e agora as pessoas convivem então, diariamente, com o risco de contrair sarampo, já que o vírus circula em várias regiões do país” conta ele.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, no Brasil aumentaram 18% dos casos de sarampo em 2019. Um levantamento, publicado no dia 4 de setembro, pelo mesmo, mostra que em 90 dias foram confirmados 2.753 casos em 13 estados, sendo sua maioria no estado de São Paulo (2.708). Entre os quatro óbitos em 2019, três foram de crianças, o que para o secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde Wanderson Oliveira, só reforça a necessidade de vacinar crianças, por elas serem mais suscetíveis a contrair o vírus.
A Fiocruz ressaltou que desde houve uma baixa de cerca de 20% na cobertura vacinal, o MS tem alertado sobre o risco da volta de doenças que já não circulavam no país. A imigração de venezuelanos também aumentou este risco, já que essas pessoas não vacinadas se tornam suscetíveis a contrair a doença, segundo o professor Fernando Bellissimo.
Um dos motivos dessa baixa na cobertura vacinal é movimento Antivacina. A OMS incluiu a resistência a vacinação na lista dos dez maiores riscos à saúde mundial em 2019. De acordo com a organização, os movimentos Antivacinas são tão perigosos quantos os outros itens da lista, pois “ameaça reverter o progresso feito no combate a doenças evitáveis por imunização”.
O principal argumento, dos adeptos a este movimento, são os males causados pela vacinação, ou seja, os efeitos colaterais. Mariana Jardim explica que alguns desses efeitos são vermelhidão, dor e inchaço no local da aplicação, “alguns casos mais raros pode haver uma reação com sintomas semelhantes da ao das doenças, como febre, dor no corpo e até uma forma mais branda de meningite” ratifica ela. Em 1998, um estudo publicado na Inglaterra deu forças para esse agrupamento, o estudo dizia que havia uma relação entre a vacina tríplice viral e o autismo. Um tempo depois, um jornalista descobriu que essa pesquisa tinha sido financiada por um advogado que tinha causas contra fabricantes de vacina. Apesar de no Brasil não ter um movimento Antivacina forte como nos Estados Unidos, por exemplo, a disseminação de informações falsas preocupa os profissionais de saúde do país. Olavo de Carvalho, ex guru do presidente Bolsonaro, tweetou em 2016 que “O falecido Dr. Carlos Armando de Moura Ribeiro dizia explicitamente: ‘Vacinas matam ou endoidam. Nunca dê uma a um filho seu. Se houver algum problema, venha aqui que eu resolvo.”
Mãe do Daniel de 5 anos, Ana Paula Barreto diz que já viu no Facebook postagens contendo informações falsas, dizendo que a vacina aumenta casos de autismo. “Era baseada em estudos, mas diante da escolha em vacinar ou não eu optei a vacinar porque toda medicação tem suas reações. Como foi em mídia social, apenas coloquei para a pessoa que não concordo com a posição de não vacinar. Já está mais que comprovado que erradicou ou controlou doenças.” opina Ana.
Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), de 2010 à 2017, 169
milhões de crianças não receberam a primeira dose da vacina tríplice viral. Desse número, 2,5 milhões estão nos Estados Unidos e 940 mil no Brasil. Para combater esse problema, a cidade de Nova Iorque está aplicando multa em pessoas que se recusam a tomar a vacina e que se recusam a levar seus filhos – o que está causando muitos problemas, já que algumas pessoas não tomam por questões religiosas, como judeus ortodoxos. Esse contexto de falta de confiança na saúde pública lembra a Revolta da Vacina, movimento popular que aconteceu no Rio de Janeiro, no começo do século XX.
Para Mariana Jardim, há diversos fatores que podem estar por trás do movimento Antivacina, “Um deles é o esquecimento de doenças sérias e fatais que foram controladas no passado pela imunização da população. Algumas quase não são mais vistas hoje, como a rubéola e a poliomielite. Parte da população, principalmente aqueles que vivem em melhores condições socioeconômicas e de saúde, esquece dos benefícios da vacinação e enfoca apenas nos efeitos adversos.” explica. Mariana diz também que a disseminação de informações falsas na internet é outro motivo para essa queda na vacinação. Para ela, a população busca informações médicas na internet e se depara com blogs e sites propagando as ideias do movimento Antivacina e ganha força entra os leigos no assunto. “Doenças como o sarampo, meningite, hepatite entre outras, hoje estão controladas graças ao elevado índice de imunização. O melhor é saber que o Brasil está entre os países que possuem um serviço de vacinação eficiente” completa Mariana.
O sarampo, doença altamente contagiosa, é causado por vírus e transmitido através do ar, ou seja, por tosse, espirro ou até contato pessoal próximo. O vírus infecta o trato respiratório e se espalha por todo o corpo. Normalmente, o primeiro sintoma da doença é a febre alta. Outros sintomas comuns são a secreção nasal, tosse, olhos vermelhos e manchas brancas na parte interior da bochecha, também podem surgir erupções cutânea após alguns dias.
De acordo com a enfermeira Mariana Jardim, essas doenças atingem principalmente crianças. “Na sua composição existem formas mais enfraquecidas dos vírus destas doenças, a proteção inicia duas semanas após a aplicação e dura por toda a vida” explica.
Em 2001, foi criada a iniciativa contra o Sarampo e a Rubéola, uma parceria global entre a Cruz Vermelha Americana (CIVC), Fundação das Nações Unidas (FNU), Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), aonde o objetivo é ajudar os países a planejarem e financiarem medidas necessárias para combater esses vírus. Segundo a OMS, países em desenvolvimento são mais propícios a terem surtos de sarampo. Das mortes que ocorrem em países de baixa renda per capta, 95% são devido a isso.
Os óbitos devido à doença se dão pelas consequências da baixa imunidade, que causa meningite, infecções, pneumonia, etc. A única maneira de evitar a doença é através da vacinação, chamada Tríplice Viral, que também protege dos vírus da Varíola e Rubéola.