Percorrendo seis municípios com uma extensão de 220 km², os 630 milhões de m³ de água da Lagoa de Araruama contam histórias de sobrevivência e abundância de espécies
Matéria por: Amanda Aquino e Lavínia Boato
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Apesar de conhecidas popularmente como Lagoa de Araruama, as águas que contornam a Região dos Lagos recebem a denominação apropriada de “laguna”. Isso se deve à sua ligação direta com o mar, além de um fato marcante - segundo estudos, sua salinidade pode chegar ao dobro registrado na água do mar aberto. Toda essa água salgada é lar para diferentes espécies marinhas, além de servir como fonte de renda para muitas famílias da região.
Atualmente, através da pesca, cerca de sete mil famílias podem se sustentar de forma direta ou indireta, mostrando o impacto de toda a extensão da laguna na economia local - porém, nem sempre foi assim. Até o final da década de 1990, a falta de coleta e tratamento de esgoto eficientes foram responsáveis pela degradação ambiental das águas.
“Hoje temos cerca de 80% de efluentes coletados e tratados, o que foi fundamental para a recuperação da saúde ambiental da lagoa”, observa Kelly Grácio, moradora de São Pedro da Aldeia e urbanista pós-graduada em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Sobre a biodiversidade da vida marinha, a especialista continua: “Isso influenciou diretamente na produção pesqueira, favorecendo o aumento das espécies de peixes, e atraindo assim as aves migratórias [...].”
A recuperação da laguna foi possibilitada por diversas ações corretivas, e, entre elas, investimentos superiores a R$1,4 bilhão em 1998 pela concessionária Prolagos, aliados ao tratamento adequado do esgoto, puderam contornar a crise ambiental enfrentada.
Segundo a Estatística Pesqueira da Lagoa de Araruama, desenvolvida pela Universidade Veiga de Almeida, a massa pescada entre março e dezembro de 2023 subiu de 263 toneladas para 332 toneladas, um salto de 26% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Espécies marinhas se acolhem com a recuperação da Lagoa de Araruama
Diferentes espécies da fauna marinha e da flora se aconchegam na extensão da laguna, fazendo das águas hipersalinas um lar que segue em desenvolvimento constante. O surgimento de cavalos-marinhos, aumento de espécies já habitantes e recepção de aves migratórias são sinais positivos da evolução da Lagoa, e encantam os moradores.
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“Já foram vistas algumas aves migratórias, conhecidas como flamingos chilenos, e uma outra espécie mais rara de ave, que é conhecida como pisa-n’água-de-pescoço-vermelho. Essas duas últimas só existem na Região dos Lagos, mas elas estão com ameaça de extinção pela perda da vegetação litorânea”, aponta Kelly Grácio.
A lista de espécies presentes representa ainda mais o privilégio de recursos nas águas que, apesar de hipersalinas, abrigam espécies como cavalos-marinhos, tainhas, carapebas, perumbebas e camarões, além de visitas privilegiadas de aves migratórias.
A especialista Mariana Angelim, médica veterinária pós-graduada em Biologia, Manejo e Conservação de Vertebrados Aquáticos, fala sobre a aparição dos cavalos-marinhos, registrada ocasionalmente: “Com a presença da espécie, observa-se uma água que não está totalmente poluída e que nela ainda se manifestam outras formas de vida. Isso sinaliza um indicativo positivo de biodiversidade e também de qualidade da água.”
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O renascimento da Lagoa de Araruama destaca a importância do conhecimento ambiental para a preservação adequada desse santuário de diversidade. A conscientização da população é essencial para garantir os benefícios duradouros da conservação da laguna, ajudando a prevenir a degradação causada pelo crescimento populacional desordenado e pela ausência de um planejamento ambiental eficiente.
A Lagoa de Araruama é um dos grandes berços de biodiversidade do mundo, e, com o privilégio de poder presenciar toda a sua beleza, vem o dever de tratá-la com o cuidado que as espécies da fauna e flora merecem - uma obrigação de toda a população para um futuro ainda mais promissor.
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