Menos doenças, mais qualidade de vida: a importância do saneamento na Região dos Lagos
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- há 1 dia
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Como o acesso à água tratada e ao esgoto influencia a saúde e o desenvolvimento da região.
Matéria por: Hellen Paixão, Ester Werly, Kamila Rossi, Amanda Aquino e Lavínia Boato.

Cabo Frio, cidade na Região dos Lagos. (Foto/Reprodução: O Rebate)
O saneamento básico é um dos principais determinantes sociais da saúde. Na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, avanços recentes em abastecimento de água e tratamento de esgoto têm contribuído para a melhoria da qualidade de vida da população, mas os dados mostram que a universalização do serviço ainda é um desafio. Garantir acesso à água potável e a um sistema de esgoto eficaz representa não apenas uma conquista essencial para a saúde pública, mas também um pilar para o desenvolvimento social, urbano e ambiental. Em uma região marcada pelo turismo e pela forte relação da população com o mar e as lagoas, os impactos do saneamento básico ultrapassam as questões domiciliares. Eles influenciam diretamente a preservação dos ecossistemas, a economia regional e a sustentabilidade de atividades que movimentam milhares de empregos e garantem a identidade cultural local. Compreender a extensão do saneamento na região é fundamental para avaliar os avanços alcançados e identificar as áreas que ainda enfrentam dificuldades.
Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o abastecimento de água tratada na Região dos Lagos apresenta variações entre seus municípios. Armação dos Búzios lidera a cobertura, com cerca de 95,3% da população atendida, embora quase 2 mil pessoas ainda vivam sem acesso regular à água potável. Em Cabo Frio, o índice é ligeiramente inferior, atingindo 94,1%, mas ainda deixa cerca de 13 mil habitantes sem abastecimento constante. Já em São Pedro da Aldeia, aproximadamente 89,6% da população tem acesso à água tratada, enquanto cerca de 20 mil moradores permanecem sem abastecimento regular. No esgotamento sanitário, a cobertura dessas cidades varia entre 77% e 78%, e muitos ainda dependem de fossas sépticas ou rudimentares, aumentando o risco de contaminação do solo e da água. Além disso, perdas de água por vazamentos, falhas na medição ou ligações clandestinas chegam a 34%, evidenciando lacunas que impactam diretamente a saúde pública da região.
Esses números refletem um desafio estrutural que se repete em todo o Brasil: o saneamento básico incompleto ainda está entre os principais fatores que alimentam as chamadas doenças de veiculação hídrica, como diarreias graves, hepatite A e leptospirose. De acordo com estudo do Instituto Trata Brasil, só em 2019 o país registrou 273 mil internações relacionadas à falta de acesso a água tratada e esgotamento sanitário adequado.
No litoral fluminense, o risco é ainda mais sensível por se tratar de uma área turística, que recebe milhares de visitantes ao longo do ano. A chegada de turistas pressiona a infraestrutura e pode ampliar os riscos de contaminação, tornando ainda mais urgente garantir serviços universais e eficientes tanto para visitantes quanto para moradores.
Avanços e desafios
Os últimos anos marcaram avanços importantes, especialmente nos municípios atendidos por concessionárias privadas de saneamento. A Prolagos, concessionária responsável pelo abastecimento de água e esgotamento sanitário em cinco municípios da região (Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia), vem ampliando a cobertura e investindo em novas soluções para coleta e tratamento. Projetos de modernização de redes, monitoramento ambiental em lagoas e praias, ampliação de estações de tratamento e iniciativas de educação ambiental em comunidades foram implementadas, e há esforços contínuos para reduzir perdas e melhorar a eficiência.
Apesar dos avanços, ainda existem áreas que permanecem descobertas, principalmente em bairros periféricos e comunidades em expansão. O desafio é conciliar a universalização do acesso com a complexidade geográfica da região, marcada por áreas costeiras, corpos hídricos e crescimento urbano desordenado, exigindo soluções técnicas e planejamento urbano de longo prazo. Moradora de Tamoios, distrito de Cabo Frio, a aposentada Vanda Alves Miranda fala sobre a realidade em que vive:
“Traz para dentro das casas esses maus cheiros, essas lamas podres daqui desses bueiros. Já peguei doença, febre e tudo, coceira nas pernas, coceira nos braços [...] não aguento mais.”
Saúde em primeiro lugar
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada R$ 1 investido em saneamento, economiza-se R$ 4 em saúde pública. Isso porque o acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário reduz a incidência de enfermidades ligadas ao consumo de água contaminada, que atingem especialmente crianças e idosos. Além de evitar internações, o acesso a água de qualidade é decisivo para a melhoria de indicadores de desenvolvimento social, como frequência escolar e produtividade no trabalho, bem como também afeta o turismo, principal motor econômico da região. Praias e lagoas com melhor qualidade da água tornam-se mais atrativas, fortalecendo a economia local.
“Na península de Búzios, estamos vivendo na prática o que a saúde pública preconiza: acesso à água limpa e tratamento de esgoto não são apenas obras de infraestrutura, são ações estratégicas de promoção da saúde. Quando ampliamos a cobertura de saneamento, reduzimos o risco de doenças de veiculação hídrica, aumentamos a segurança sanitária dos moradores e visitantes e, ao mesmo tempo, fortalecemos o turismo e a economia local. Por isso, apoiamos firmemente os programas que visam universalizar esses serviços. Estamos trabalhando em parceria com concessionárias, órgãos ambientais e as comunidades para que ninguém fique de fora desse direito básico”, afirma Leônidas Heringer, secretário de saúde de Armação dos Búzios.
Caminho para o futuro
A universalização do saneamento básico é reconhecida como prioridade pela ONU desde 2010, quando o acesso a água potável e esgotamento sanitário foi incluído entre os direitos humanos fundamentais. No Brasil, a meta estabelecida pelo novo Marco Legal do Saneamento é atingir 99% da população com abastecimento de água e 90% com coleta de esgoto até 2033.
A ampliação da rede de saneamento nos municípios da Região dos Lagos é um processo em andamento, mas ainda incompleto. Cumprir essa meta significa não apenas ampliar a infraestrutura, mas também assegurar condições para a consolidação de um modelo de desenvolvimento sustentável. Água tratada e tratamento de esgoto são pilares que sustentam a saúde pública, preservam o patrimônio natural e reforçam a economia da região, transformando índices que hoje parecem satisfatórios em um cenário de acesso pleno, no qual nenhum morador fique à margem de serviços básicos que garantam dignidade e bem-estar. Assegurar esse acesso significa menos doenças, mais qualidade de vida e um futuro mais saudável para a população local e para os milhares de turistas que todos os anos escolhem a região como destino.






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