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PROBLEMAS NO PARAÍSO: O DESCASO COM AS OBRAS DA LAGOA DA PRAINHA

  • Foto do escritor: AEC
    AEC
  • há 2 dias
  • 5 min de leitura

Um dos principais cartões-postais da cidade de Arraial do Cabo se encontra atualmente abandonado e sem previsão de conclusão de seu projeto de reforma


por: Adrian Fernandes Soares, Luiz Gabriel Costa Meireles e Nathan de Souza Oliveira Caland


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Por trás da imagem de paraíso vinculada ao município de Arraial do Cabo, existe uma crise alarmante: a degradação da Lagoa da Prainha e uma sequência de gestões que falham em garantir saneamento básico à área. Há tempos, enquanto milhares de turistas se encantam com a praia que carrega o mesmo nome da lagoa, os moradores enfrentam mau odor, pragas e lidam com um verdadeiro esgoto a céu aberto. A esperada obra que prometia mudar essa situação, iniciada em 2024, encontra-se paralisada há meses e a lagoa continua sendo um símbolo de abandono no meio do principal cartão-postal da cidade.


As obras no Parque Público Hermes Barcellos, onde fica localizada a Lagoa da Prainha, se iniciaram em fevereiro de 2024. Até outubro de 2025, apenas a primeira etapa da obra foi concluída: a construção da Escola Municipal Henrique Sérgio Melman. A segunda etapa, a dragagem e desassoreamento da lagoa, precisou ser interrompida devido à ineficiência da empresa contratada. Resultado: o contrato foi rescindido e o município abriu uma nova licitação para a continuidade da obra. Essa não foi a primeira tentativa de conter o esgoto na lagoa: a Prolagos fez, em 2020,  a implantação de uma rede coletora de esgoto em volta do parque. Com intenção de ser uma solução para o problema de captação em tempos secos, o esgoto que chega indevidamente pelas galerias pluviais seria desviado e encaminhado para receber tratamento adequado. Entretanto, na prática, o plano não funcionou como o esperado e, mesmo com a coletora instalada, ligações irregulares de esgoto doméstico continuaram e ainda continuam despejando resíduos que deságuam dentro da lagoa. Outro fator determinante é a limitação do próprio sistema de captação em tempos secos, pois, quando chove, o volume de água nas galerias pluviais aumenta em grande escala e transborda, fazendo com que o esgoto seja despejado diretamente na lagoa, não resolvendo o problema e anunciando o impacto que virá nos dias de chuva intensa.


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No bairro da Prainha, nomeado, obviamente, em homenagem à lagoa e à praia que abriga, há uma comunidade. Os moradores que usufruem do parque público como caminho para pontos de ônibus, trabalho e escola são obrigados a lidar com o terrível odor vindo da lagoa. Além disso, pragas, como ratos e insetos, também não são raras de serem avistadas. Apesar da insatisfação ser coletiva, o bairro não dispõe de uma associação de moradores que possa facilitar a organização interna e pressionar a prefeitura. O Fala Galo, um grupo no Facebook composto por moradores da cidade e com mais de 30 mil membros – número quase equivalente à população total da cidade, 32,794 mil, segundo o observatório do Sebrae –, recebe diariamente reclamações sobre o atual estado do parque, que não só conta com as obras paradas mas também abriga cada vez mais lixo despejado pelos próprios moradores e que não é recolhido.


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Nelson Braga Mota, aposentado e morador do bairro da Prainha há 15 anos, diz que desde que chegou em Arraial do Cabo, a lagoa não recebeu nenhuma mudança, continuando, desde aquela época, suja e com péssimos odores. “Um abandono por parte do poder público, obra parada por briga da prefeitura com a empresa que não teve capacidade de terminar o que foi contratada para fazer.”, opina Nelson. O morador cita também a obra promovida pela Prolagos, que se mostra ineficiente quando há enchentes muito fortes, pois o volume da água aumenta e todo o esgoto acaba voltando para a lagoa. Compartilha, inclusive, que já virou rotineiro ver pessoas atravessando o parque de barco quando o nível sobe demais.



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Uma fonte que preferiu não se identificar compartilhou os impactos do esgoto doméstico sobre a lagoa, além de também apontar medidas eficazes para a descontaminação e educação ambiental da população local. O principal impacto seria o processo de eutrofização da água. Esse fenômeno é resultado do acúmulo em excesso de nutrientes provindos de esgotos e demais atividades humanas, o que acaba deteriorando e poluindo a água da lagoa. Dada a urbanização no local, a lagoa recebe enormes quantidades de matéria orgânica carregadas de fósforo e nitrogênio, o que acaba diminuindo a oxigenação da água e, por fim, reduzindo a diversidade biológica. A medida mais eficaz para a descontaminação seria a instalação de separadores absolutos para que o esgoto seja captado e transportado para separação das águas pluviais em estações de tratamento. A fonte anônima sugere também a instalação de uma pequena ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) dentro do próprio parque público, promovendo a recirculação da água através de captação, tratamento e devolução da água devidamente tratada para a lagoa. Conversando sobre educação ambiental, ressaltou que o mais importante é promover a conscientização da importância da lagoa, justamente por ser uma remanescente de restinga e, principalmente, incentivar a renaturalização do local, fomentando o plantio da vegetação nativa.


DEPOIMENTO

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A Crise ambiental na Lagoa da Prainha não é um caso isolado, ela escancara um problema que se repete em outras regiões da cidade. Em janeiro deste ano, 2025, a Secretaria de Meio Ambiente recebeu, também através das redes sociais, denúncias de um condomínio de luxo que praticava descarte irregular de esgoto na lagoa de Monte Alto, causando poluição e danos ambientais no distrito de mesmo nome. Representantes da prefeitura fizeram a inspeção e constatação do crime ambiental e o condomínio foi devidamente notificado e forçado a cessar o despejo com base no artigo 74º do Decreto Municipal 1826/10. 


Os acontecimentos nas Lagoas da Prainha e de Monte Alto expõem uma crise estrutural no saneamento básico da cidade. Bairros que não possuem cobertura e fiscalização revelam um abismo entre demanda e resposta da prefeitura. A gravidade da situação é ressaltada pelos dados do Instituto Água e Saneamento, que mostra que 19,77%  da população cabista não tem seu esgoto coletado e 2,17% vive sem acesso à água. 8.391 moradores, cerca de 25% do total da cidade, utilizam fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede.





Enquanto os turistas seguem encantados pelas belezas naturais de Arraial do Cabo, os moradores continuam convivendo com o cheiro do abandono e a paisagem da omissão por parte da prefeitura. A crise da lagoa não é um caso isolado, mas sim o retrato de uma cidade que precisa decidir se continuará maquiando seus problemas ou se irá finalmente encará-los. No final das contas, não há paraíso que resista quando toda a sua sujeira é varrida para debaixo da água.


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