Por: Liandra Nogueira e Victor Macieira.
A Lagoa de Araruama, a maior laguna hipersalina do mundo, é hoje uma importante fonte de renda para diversas famílias da região, especialmente por meio da pesca. Entretanto, há cerca de 20 anos, a realidade era muito diferente: aproximadamente 90% do esgoto da área era despejado diretamente em suas águas, comprometendo a biodiversidade local.
Atualmente, a lagoa abriga uma série de atividades econômicas sustentáveis. Mulheres quilombolas produzem biojóias, pescadores sustentam suas famílias com a pesca, e outros grupos encontraram nela uma oportunidade. Esse cenário de recuperação é resultado de esforços contínuos na preservação e manejo sustentável da lagoa.
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Uma pesquisa realizada pelo projeto Estatística Pesqueira, desenvolvido pela Universidade Veiga de Almeida em parceria com a Prolagos, apontou um aumento de 26% no volume de pesca em 2023 em relação a 2022. Este crescimento é um indicativo direto da melhora das condições ambientais.
Com o intuito de promover a preservação das espécies, uma nova lei foi aprovada, criando dois períodos distintos de defeso: um para os peixes e outro para o camarão. Antes, ambos compartilhavam o mesmo período, o que limitava a recuperação de cada espécie. Agora o período de defeso vai de 01 de abril a 30 de junho para crustáceos e 1 de agosto a 31 de outubro pra peixes. O período de defeso é o tempo em que a pesca de certas espécies é proibida para proteger a reprodução e garantir a sustentabilidade dos estoques pesqueiros. O ambientalista Lucas Muller explicou:
“O defeso é essencial para que essas espécies possam crescer, seja peixe, camarão, siri, enfim, sejam várias outras espécies que são pescadas, que são retiradas dessa lagoa para o sustento de diversas famílias, é importante esse defeso pra esse crescimento.”
Já Márcio Silveira Ramalho, pescador com 30 anos de experiência na região, comentou as mudanças:
“A separação do defeso foi boa. Antes, pegávamos peixes pequenos por acidente. Em relação à melhora, algumas áreas ainda enfrentam poluição, como a Praia do Siqueira, onde a estação de tratamento da Prolagos tem causado problemas. Mas a pesca, especialmente do camarão, melhorou muito nos últimos anos.”
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As críticas à poluição na Praia do Siqueira levaram a nossa equipe a buscar esclarecimentos junto à Prolagos, concessionária responsável pelo saneamento na região. Em nota, a empresa afirmou que, nos últimos 26 anos, investiu R$ 1,4 bilhão em saneamento, com a cobertura de esgoto chegando a 90%. No caso específico da Praia do Siqueira, a concessionária destacou que o local recebe resíduos trazidos pela drenagem de áreas centrais de Cabo Frio, o que compromete a renovação da água.
Além disso, a Prolagos está realizando obras de modernização da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) na Praia do Siqueira, que, quando concluídas, aumentarão em 50% a capacidade de tratamento, gerando água de reuso para irrigação e outros fins.
Apesar das melhorias, ainda há desafios a serem enfrentados. Investimentos em educação ambiental e maior conscientização sobre o descarte correto de resíduos são fundamentais. O envolvimento das autoridades públicas e a cobrança por melhorias nas infraestruturas de saneamento também são indispensáveis.
Com ações contínuas e rigorosas, será possível garantir uma laguna mais saudável, que continue a ser fonte de sustento e qualidade de vida para todos.
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