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Amanheceu mais clara: Saneamento da Prolagos transforma Laguna de Araruama

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    AEC
  • há 2 dias
  • 9 min de leitura

Obras de infraestrutura permitem recuperação da lagoa e garantem peixes mais saudáveis, beneficiando  comércio e o turismo na Região dos Lagos


por: Carlos Eduardo Cunha, Kauan Teixeira e Maria Eduarda Conceição


|Oziel da Silva Gava, Pescador profissional e morador de Cabo Frio| Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha /UVA
|Oziel da Silva Gava, Pescador profissional e morador de Cabo Frio| Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha /UVA

Para quem depende da pesca, a transformação já é perceptível.  Pescador Profissional há 20 anos em Cabo Frio, Oziel da Silva Gava descreve que mudanças na água ocorrem dia após dia e impactam no trabalho:


”Hoje amanheceu clara, e isso ajuda muito. A qualidade da água está melhorando, os peixes também. Com esgoto tratado, fica melhor para todo mundo que vive na Lagoa”

Essa melhora, percebida por pescadores e comerciantes, é resultado de um esforço contínuo da Prolagos para aumentar  a proteção à água. Atualmente, em 2025, o reforço no sistema de esgotamento sanitário do Mercado do Peixe, em Cabo Frio, realizado pela concessionária, por exemplo, integra esse empenho na manutenção da vitalidade do ecossistema.


Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha/ UVA
Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha/ UVA

A defesa da biodiversidade reflete diretamente na volta da vida marinha, com o aumento da diversidade de peixes, crustáceos e moluscos, tornando a pesca artesanal produtiva e assegurando o consumo seguro dos alimentos.


  O depoimento de Oziel mostra que a recuperação da lagoa não é só boa para o meio ambiente, mas também ajuda diretamente quem vive da pesca na Região dos Lagos. A esperança é de que o trabalho continue e traga um grande benefício para todos. 


  Assim como Oziel, outros pescadores relatam que espécies que estavam desaparecendo voltaram a ser vistas com mais frequência. Essa mudança traz confiança para quem tem na pesca a principal fonte de renda, fortalecendo a tradição cultural da região.


  Moradores e comerciantes também celebram os avanços, já que a melhoria da lagoa atrai turistas, movimenta bares e restaurantes e valoriza o comércio local. A revitalização do espaço natural tem se mostrado uma oportunidade de crescimento econômico sustentável.


  Este reflexo positivo vai além da economia. Especialistas destacam que a recuperação da Lagoa de Araruama ajuda a equilibrar o ecossistema, favorecendo a fauna e a flora que dependem diretamente da qualidade da água. Esse processo torna a região um exemplo de como o saneamento pode transformar uma realidade crítica.


 O desafio, no entanto, continua sendo manter o engajamento da sociedade e a continuidade dos investimentos em infraestrutura. Apenas com ações permanentes será possível consolidar os resultados já alcançados e garantir que a lagoa permaneça como um patrimônio ambiental e cultural da Região dos Lagos.


|Eduardo Pimenta, biólogo e pesquisador|Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha /UVA
|Eduardo Pimenta, biólogo e pesquisador|Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha /UVA

Segundo Eduardo Pimenta, especialista científico na região, a relevância econômica da Lagoa de Araruama ultrapassa as fronteiras da Região dos Lagos.


"Há alguns anos venho avaliando os estoques naturais de pescado da Lagoa de Araruama, que representam muita geração de trabalho, emprego, renda e ofertam proteína de fácil digestibilidade e qualidade para a população, não só para os municípios do entorno da lagoa, como também para outros estados que esse pescado é exportado."

Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha/UVA
Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha/UVA

Nos últimos anos, a participação de moradores, pescadores e comerciantes foi essencial para cobrar melhorias e acompanhar os resultados das intervenções. O envolvimento da comunidade é imprescindível, para fortalecer a consciência ambiental e ajudar a manter as águas em condições favoráveis para atividades de subsistência e lazer. 


 Além do aspecto ambiental, a recuperação da lagoa impulsiona o turismo, um dos principais motores econômicos da Região dos Lagos. Com a melhora da qualidade da água, esportes náuticos, passeios turísticos e a pesca ganham novo fôlego, gerando empregos e oportunidades para a população.


|Cleuza Leatriz Trevisan, geoquímica e Júlio Cesar de Faria Alvim Wasserman professor e coordenador da Rede UFF de meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável|Acervo pessoal de Cleuza Leatriz Trevisan |Imagem Júlio Cesar de Faria Alvim Wasserman - Reprodução: YouTube, Ciência Ambiental UFF: Quem somos - episódio CIÊNCIA AMBIENTAL UFF: PROF. JULIO WASSERMAN
|Cleuza Leatriz Trevisan, geoquímica e Júlio Cesar de Faria Alvim Wasserman professor e coordenador da Rede UFF de meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável|Acervo pessoal de Cleuza Leatriz Trevisan |Imagem Júlio Cesar de Faria Alvim Wasserman - Reprodução: YouTube, Ciência Ambiental UFF: Quem somos - episódio CIÊNCIA AMBIENTAL UFF: PROF. JULIO WASSERMAN

 De acordo com pesquisas realizadas pela Universidade Federal Fluminense (UFF), acompanhada pela geoquímica Cleuza Leatriz Trevisan ao longo do seu estudo e sob orientação do professor Júlio Cesar de Faria Alvim Wasserman em 2025, a crise ambiental na laguna envolve múltiplos fatores, como excesso de nutrientes provenientes do esgoto, perda de biodiversidade e pressão urbana.


A própria Dra. Trevisan destaca a origem do problema:


"no caso da Laguna de Araruama, agricultura e indústrias não são as atividades que mais poluem. Já o lançamento de esgoto de fontes difusas (as tão comuns valas ou valões) e também o tratamento inadequado dos efluentes que chegam na laguna vindo das estações de tratamento são um problema real."

   A investigação revela um diagnóstico preocupante sobre a crise ambiental, segundo a pesquisadora o fundo da lagoa se tornou a principal fonte de contaminação:


"o sedimento é o grande reservatório de nutrientes da laguna. A minha tese quantificou concentrações de nutrientes quase mil vezes maiores no sedimento que na coluna d'água."

 Conhecido como eutrofização, trata-se de um processo em que o excesso de nutrientes presentes na água, especialmente fósforo e nitrogênio provenientes do esgoto, alimenta a proliferação descontrolada de algas. Esse crescimento excessivo de algas é o responsável pela aparência turva da água, que desde 2005 substitui o famoso tom cristalino da laguna, e pela liberação de toxinas que ameaçam tanto a vida aquática quanto a saúde humana, enfatiza a Dra..


"Com a mudança da qualidade da água, esses organismos [do fundo do sedimento] foram substituídos pelo fitoplâncton, que deixam a água turva e impedem que o Sol chegue ao fundo da laguna. Toda a cadeia trófica é impactada com essas mudanças.”

   Outro ponto revelado pela investigação é o papel dos sedimentos no fundo da laguna. Eles funcionam como um reservatório de nutrientes, que são liberados de forma contínua na água.  O acúmulo histórico de poluição no fundo da lagoa cria um desafio contínuo. Questionada se a degradação continuaria mesmo com a interrupção total do esgoto, a Dra. Trevisan é categórica:


 "Exatamente! Não basta deixar de poluir, mas também ter ações de depuração do sedimento através das próprias algas da laguna, com manejo correto, e outras práticas de Soluções Baseadas na Natureza."

  

 Diante desse cenário, surgem soluções inovadoras que podem se complementar com as obras de saneamento. Uma das propostas é o uso de técnicas de biorremediação, como a criação de “fazenda de algas”.

 

   Nessas fazendas, algas específicas seriam cultivadas para absorver o excesso de nutrientes da água, ajudando a limpar a laguna de forma natural. Além do benefício ambiental, essa técnica poderia gerar uma nova fonte de renda para os pescadores locais, que seriam os responsáveis pelo cultivo. Essa proposta integra a melhoria do saneamento básico com soluções baseadas na própria natureza, fundamentais para garantir uma recuperação sólida da Laguna. O desafio é grande, mas a ciência mostra que, com os investimentos corretos e o engajamento de todos, é possível devolver à sua exuberância.


  Além disso, a pesquisa indica que a restauração da biodiversidade tem efeito multiplicador: a presença de espécies nativas ajuda a controlar algas e pragas, equilibrando o ecossistema e tornando a lagoa mais resiliente a futuras ameaças. A melhoria na qualidade da água traz impactos positivos diretos à economia e à sociedade, beneficiando a pesca tradicional, fortalecendo o turismo e promovendo maior segurança alimentar para os moradores.


    A manutenção das políticas públicas e dos investimentos em infraestrutura é crucial para evitar retrocessos, consolidando os avanços já alcançados na preservação da lagoa. Isso implica um esforço contínuo entre governo, concessionária, pesquisadores e comunidade, no combate a ligações clandestinas de esgoto e ao crescimento urbano desordenado.        Desse modo, assegurar o equilíbrio ambiental a longo prazo por meio de medidas educativas e fiscalização garantem que as futuras gerações possam usufruir da lagoa em toda a sua riqueza.  


Pescado saudável e confiança do consumidor


|Comerciante e dona da peixaria Luc-Mar, Lucimar dos Santos  Sampaio aponta efeito positivo que a Lagoa tratada traz ao pescado | Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA
|Comerciante e dona da peixaria Luc-Mar, Lucimar dos Santos  Sampaio aponta efeito positivo que a Lagoa tratada traz ao pescado | Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA

“Com a lagoa limpa, os peixes são mais saudáveis. Já vemos melhora no camarão, na tainha e em outros peixes. A obra trouxe resultado e, se continuar, será um grande benefício”.

A constatação de melhora no comércio e no consumo é totalmente respaldada pela ciência. O pesquisador Eduardo Pimenta, que monitora a saúde do ecossistema e a segurança do pescado, confirma a qualidade da água:


"Hoje, atualmente em 2025, 85% de todo o corpo d'água hídrico lagunar de Araruama estão em boas e ótimas condições de balneabilidade. O pescado da lagoa de Araruama não está contaminado, pode ser consumido com muita segurança."

  O reconhecimento da comerciante se soma à de muitos que vivem do comércio de pescados na região. A qualidade dos produtos oferecidos ao consumidor final aumenta e, junto dela, cresce a confiança dos clientes que procuram peixes frescos e de boa procedência.


 Segundo Lucimar, a valorização do pescado tem fortalecido o negócio local, estimulando não apenas a venda direta, mas também o abastecimento de restaurantes que dependem diariamente da produção pesqueira da Lagoa de Araruama.


 O depoimento de comerciantes como Lucimar confirma que os investimentos em saneamento não apenas preservam o meio ambiente, mas também geram efeitos concretos na economia e na vida da população. A continuidade das obras se mostra essencial para consolidar essa transformação.


Patrimônio que conquista visitantes e traz esperança aos moradores


|Marilene, técnica em enfermagem e turista, visita Cabo Frio com frequência e diz notar diferenças na coloração e presença regular de animais típicos da região, que por conta da intervenção humana costumavam aparecer de vez em quando. | Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA
|Marilene, técnica em enfermagem e turista, visita Cabo Frio com frequência e diz notar diferenças na coloração e presença regular de animais típicos da região, que por conta da intervenção humana costumavam aparecer de vez em quando. | Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA

“Em abril vi que precisava de reforma e saneamento. Agora percebo que já não há tanta poluição, a água está mais clara e até as aves estão mais presentes. A paisagem está mais bonita.” 

Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA
Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA

 A observação de Marilene destaca um aspecto fundamental da recuperação da Lagoa: O retorno da fauna. Espécies de aves, peixes e crustáceos, antes afastados pela poluição, começam a se aproximar, indicando que o ecossistema encontra espaço para se regenerar.


 Esse processo de revitalização não passa despercebido pelos turistas que buscam lazer e contato com a natureza. A melhoria da qualidade ambiental agrega valor ao destino, tornando a região ainda mais atrativa para visitantes em busca de praias, gastronomia e paisagens naturais.


  Além da beleza cênica que encanta os olhos, a presença de animais típicos também tem impacto educativo. As famílias que frequentam a Lagoa conseguem vivenciar de perto a importância da preservação e compreender o quanto as ações de saneamento influenciam na manutenção da biodiversidade.


  Para os especialistas em meio ambiente, relatos como o de Marilene reforçam a percepção pública de que os investimentos estão surtindo efeito. A combinação entre políticas de saneamento, fiscalização e conscientização da população é o caminho para que a Lagoa de Araruama continue seu processo de recuperação e mantenha seu valor ambiental e turístico.


| Moradora de Cabo Frio, Vanessa Viana Faquetti, vendedora e bióloga, ressalta o papel fundamental da biodiversidade e que a questão vai além da estética.|Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA
| Moradora de Cabo Frio, Vanessa Viana Faquetti, vendedora e bióloga, ressalta o papel fundamental da biodiversidade e que a questão vai além da estética.|Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA

 

“O despejo de esgoto já foi muito maior. Agora existe melhora, e acredito que o trabalho em andamento pode trazer de volta espécies nativas e reforçar a pesca na região”. 

O trabalho contínuo da Prolagos no saneamento está recuperando a Laguna de Araruama. Essa melhora na qualidade da água está devolvendo a vitalidade ao ecossistema. Essa mudança positiva é clara para todos: o pescado está mais saudável, as aves estão mais presentes, e a água está mais clara. 


 A recuperação é um grande benefício que garante o sustento de  pescadores e traz esperança aos moradores. Entretanto, para que essas águas continuem a prosperar, é preciso cautela e continuidade no trabalho. 


 Essa percepção, compartilhada por Vanessa, evidencia que a recuperação da lagoa vai além da questão ambiental, sendo também social e econômica. Com a revitalização, os moradores ganham qualidade de vida e os pescadores veem a possibilidade de manter suas atividades de forma mais sustentável e produtiva.


  Com isso, fica a lição de que o trabalho não termina na recuperação, os investimentos em saneamento podem gerar benefícios duradouros, mas é necessário que o acompanhamento esteja alinhado com tratamento contínuo e ações em conjunto com o coletivo. Dessa forma, garantindo que a maior massa de água hipersalina do mundo continue viva e mantendo a cultura da Região dos Lagos em segurança.


Futuro rigoroso


Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA
Foto: Carlos Eduardo de Souza Cunha / UVA


  Entre a esperança dos moradores e os diversos alertas da ciência, a Lagoa de Araruama segue sendo um símbolo do impacto humano sobre ecossistemas costeiros. Assim, o esforço contínuo de melhoria no sistema de esgotamento promovido pela Prolagos se torna essencial na proteção das vidas marinhas e na preservação do sustento de pescadores, bem como na utilização segura de banhistas nas águas da laguna.


   A Dra. Cleuza Leatriz Trevisan adverte, no entanto, que a recuperação plena e duradoura exige um compromisso que transcende interesses passageiros. Para ela, a melhoria da qualidade da água pode acontecer, mas é preciso consistência:


"desde que mudanças sejam implementadas e que perdurem ao longo do tempo. Ações imediatistas e eleitoreiras não farão isso".

  Esse alerta serve como um aviso, afinal a verdadeira recuperação da Laguna de Araruama depende de um esforço sério, contínuo e baseado na ciência.


    A manutenção das obras de saneamento, aliada à educação ambiental, é vista como um pilar para evitar retrocessos. A participação da população local, unida às ações de fiscalização e monitoramento, garante que a lagoa continue apresentando sinais de melhora consistentes.


  Além disso, a revitalização da Lagoa de Araruama inspira outras regiões costeiras a adotarem medidas semelhantes, mostrando que é possível conciliar desenvolvimento urbano, preservação ambiental e atividades econômicas sustentáveis.


 O equilíbrio entre a intervenção humana e a recuperação natural reforça a importância de políticas integradas. Essa articulação de esforços têm sido essencial para reverter o cenário de degradação histórica. O biólogo Eduardo Pimenta detalha a dimensão desse trabalho e os atores envolvidos:


"No final da década de 1990, 100% da lagoa estava totalmente impactada. As políticas públicas ambientais, seja na esfera municipal, estadual, federal e também dos empreendedores privados têm dado resultado. O comitê da bacia hidrográfica Lago São João, o consórcio intermunicipal Lagos São João e as concessionárias de água e esgoto no entorno da lagoa de Araruama, além do ministério público, acompanham tudo isso."


  A continuidade dos investimentos e o cuidado com o ecossistema tornam-se fundamentais para transformar conquistas temporárias em resultados permanentes.


  O futuro da lagoa depende, portanto, do comprometimento coletivo: moradores, pescadores, turistas, pesquisadores e autoridades precisam trabalhar juntos para consolidar uma lagoa limpa, rica em biodiversidade e fonte de sustento para toda a Região dos Lagos.

 
 
 

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