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Amena Mayall: da resistência ambiental ao avanço do saneamento na Região Dos Lagos

  • Foto do escritor: AEC
    AEC
  • há 9 horas
  • 7 min de leitura

por: Eduarda Rodrigues e Katly Alves


Amena Mayall, filósofa, escritora e ambientalista, foi uma das pioneiras na luta pela preservação ambiental e pela valorização da cultura popular na Região dos Lagos, especialmente em Cabo Frio. Quase quatro décadas após sua morte precoce, Amena ainda inspira os caminhos da cidade, onde travou batalhas contra a especulação imobiliária e pela proteção das dunas, lutas que hoje se materializam em outro campo: o do saneamento básico.


Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente
Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente

Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente
Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente

SOS Dunas: O Legado de Amena Mayall


Na década de 1980, Cabo Frio assistia à crescente especulação imobiliária que ameaçava suas dunas e ecossistemas costeiros. Nesse contexto de desordem urbana, Amena Mayall foi pioneira: ela participou da criação da AMARLA (Associação de Meio Ambiente da Região da Lagoa de Araruama) e liderou a campanha "SOS Dunas", que culminou com o tombamento das dunas como patrimônio ambiental nos anos 1980.


Amena chegou a Cabo Frio após um período de intensa perseguição política no Rio de Janeiro, durante o período da ditadura. Sua militância no passado a havia forçado à clandestinidade, sendo expurgada do cenário cultural carioca e sujeita a proibições.


Sua atuação marcou a história local. Mesmo após perseguição política durante a ditadura e anos de clandestinidade, Amena se reinventou como figura pública e foi a primeira mulher a se candidatar à Prefeitura de Cabo Frio. Sua trajetória prova que o ativismo ambiental sempre foi também um ato político e de resistência cultural.


Amena faleceu ao cair de um morro na ilha do japônes, deixando um legado inestimável de luta, coragem e amor pelo meio ambiente que reverbera em Cabo Frio até hoje.


Crédito: Eduarda Rodrigues / UVA.
Crédito: Eduarda Rodrigues / UVA.

A amiga e parceira de ativismo, Meri Damasceno, recorda a urgência e o impacto da campanha na época, que transformou a mentalidade local:“Eu comecei a me politizar, a militar, nesse momento com a Amena, porque eles iam pra rua conscientizar sobre a especulação imobiliária”, lembra Meri.


Na época, conta, poucos entendiam o que significava o avanço imobiliário: “A gente nem sabia direito o que era isso — vender casa pra construtor, tirar pescador, tirar morador e fazer prédio. Achava que era bom pra cidade. Comer ‘hamburgão’ parecia melhor que sardinha frita.”, 


 “E aí a Amena trouxe outra visão: ‘Vamos dar uma freada? Cabo Frio tem uma beleza única’. Foi assim que nasceu a AMARLA“  Dessa mobilização nasceu a AMARLA, associação de meio ambiente da Lagoa de Araruama.


“Foi aí que comecei a participar de verdade. A gente era vista como marginal, coisa supérflua, mas o importante era mudar a cabeça dos moradores de Cabo Frio, inclusive a minha”, conclui Meri.


Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente
Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente

Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente
Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente

Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente
Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente

Quarenta anos após a campanha SOS Dunas, a principal formação, conhecida como Duna Mãe ou Dama Branca, localizada na Praia do Foguete, mantém-se ambientalmente estável e protegida por legislação municipal.


Atualmente, a área é monitorada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Clima e Saneamento, e integra o zoneamento de preservação da orla. Estudos técnicos indicam que a cobertura vegetal se regenerou e que a movimentação de areia foi controlada, evitando o avanço sobre vias e residências próximas.


O local, que já simbolizou o ápice da degradação e do ativismo ambiental em Cabo Frio, hoje representa um caso de sucesso na recuperação de ecossistemas costeiros, resultado direto das mobilizações iniciadas por Amena Mayall e consolidadas por políticas públicas contínuas.


Foto: Eduarda Rodrigues / UVA.
Foto: Eduarda Rodrigues / UVA.
Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente
Acervo pessoal de Meri Damasceno / Reprodução: O Inteiro Ambiente

Como a falta de Saneamento no passado refletia a Luta de Amena e o Cenário de Hoje?


Na década de 1970, quando Amena Mayall se mudou para Cabo Frio, a cidade começava a sentir os efeitos da urbanização acelerada e do turismo crescente. O crescimento desordenado que ela combatia nas dunas era o mesmo que sobrecarregava a infraestrutura urbana, resultando no lançamento de esgoto in natura nas lagoas e praias. A luta pela preservação ambiental, portanto, sempre foi intrinsecamente ligada à luta pelo saneamento básico.


Quase quarenta anos depois da mobilização liderada por Amena, Cabo Frio ainda enfrenta desafios estruturais, mas também colhe avanços concretos.


Em resposta à reportagem, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Clima e Saneamento de Cabo Frio (SMAC) detalha como a gestão se tornou um instrumento central para a recuperação ambiental. O avanço mais significativo é o legal e de planejamento: este ano, foi aprovada a Lei Municipal nº 4.462/2025, pioneira na Região dos Lagos, que protege a Lagoa de Araruama ao exigir sistemas adequados de tratamento de esgoto em novos empreendimentos. Além disso, a revisão do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) define as prioridades de universalização de médio e longo prazo.


Estes esforços de gestão e regulação são complementados pela atuação da concessionária Prolagos, que trata 100% do esgoto coletado na Região dos Lagos. O saneamento é determinante para manter a balneabilidade das praias e a integridade dos ecossistemas costeiros, o que fortalece certificações internacionais como a Bandeira Azul e consolida Cabo Frio como referência em turismo sustentável.


Foto: Eduarda Rodrigues / UVA.
Foto: Eduarda Rodrigues / UVA.

O impacto da infraestrutura antiga na falta de saneamento básico nos bairros periféricos da Região dos Lagos


Mesmo com os avanços recentes e uma nova consciência ambiental emergindo, os reflexos da urbanização desordenada do passado ainda ecoam nos bairros mais afastados da Região dos Lagos.A herança de uma infraestrutura antiga, construída sem planejamento e pressionada pelo crescimento populacional e turístico, continua impactando diretamente a vida de quem mora longe do centro.

É nessas áreas onde o progresso chega devagar, que os desafios do saneamento básico se tornam mais visíveis e humanos.


A história de Kátia, moradora de São Pedro da Aldeia, da Rua do Fogo, expõe o quanto as marcas deixadas pela falta de estrutura persistem no cotidiano das comunidades locais.


Foto: Katly Alves
Foto: Katly Alves

A transformação que o saneamento traz não é apenas técnica, mas também social. A chegada de uma infraestrutura moderna representa uma mudança radical na saúde pública e na qualidade de vida das famílias.


“A gente sente que falta manutenção preventiva de verdade. Eles vêm e consertam o estrago, mas a gente precisa que troquem os canos — não só tapem o buraco”, desabafa Kátia, moradora de São Pedro da Aldeia.

Ela explica que o sistema envelhecido afeta diretamente o cotidiano dos moradores e reforça o pedido por investimentos estruturais duradouros:


“Queremos que invistam na rede velha daqui. É o desgaste e o crescimento desorganizado. O município evoluiu, mas a tubulação de bairros tradicionais como o nosso não acompanhou. É muito fina e está pouco enterrada.”


Foto: Katly Alves
Foto: Katly Alves


Foto: Katly Alves
Foto: Katly Alves


Foto: Katly Alves
Foto: Katly Alves

“Às vezes, um carro passa na rua e estoura o cano, que fica quase exposto. Isso gera desperdício. No verão e na alta temporada, a pressão da água cai muito e pode faltar em algumas áreas. Mas o principal é a fragilidade desses canos.” Completa Dona Kátia.


Enquanto isso, projetos comunitários e institucionais, apoiados por órgãos como o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa) — tentam preencher as lacunas deixadas pela gestão pública, promovendo ações de fiscalização e melhoria que buscam restaurar a dignidade ambiental da região.


Quem Leva a Bandeira Hoje?


Se Amena foi pioneira em levantar a voz pelo meio ambiente, novas frentes de luta seguem seu caminho. A luta ambientalista é mantida por diversos grupos e iniciativas:As políticas de saneamento são lideradas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Clima e Saneamento, sob a direção do secretário Jailton Nogueira. A execução operacional dos serviços de água e esgoto é realizada pela concessionária Prolagos


O município participa ativamente de uma articulação regional por meio do Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ), que atua junto ao Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João (CBHLSJ), promovendo a gestão integrada de recursos hídricos.De forma análoga ao que descreveu Meri Damasceno, o biólogo e especialista em impactos ambientais Eduardo Pimenta, ex-superintendente regional do IBAMA, reforça que, acredita que a mudança de mentalidade é o maior legado e também o ponto-chave para os avanços da cidade. Um processo que, segundo ele, ainda ecoa em Cabo Frio:


“O novo ativismo ambiental tem principais bandeiras e vertentes: existe uma vertente que é do ativismo partidário, de usar como interesse político, mas também existe o movimento mais técnico e cultural, que vem se sobrepondo a esses ativistas ambientais oportunistas.”“De qualquer maneira, os dois são muito importantes, mas o ativismo mais técnico e científico é mais de ação do que de fala, alicerçado na técnica, na cultura, no coloquial e no cotidiano das pessoas, do que aqueles mais oportunistas, que sobrepõem mais a uma eleição”, afirma.


A fala de Pimenta ajuda a compreender o contraste entre gerações de ativismo: se antes o desafio era lutar pelo reconhecimento das causas ambientais, hoje o foco está em profissionalizar o discurso e transformar mobilização em prática concreta. Essa visão técnica, segundo o biólogo, é o que mantém viva a essência do movimento iniciado por Amena Mayall, o de agir pela natureza, mais do que apenas falar sobre ela.



E agora? Como estamos caminhando para o futuro?


Amena Mayall acreditava na união entre preservação ambiental e valorização cultural. Sua luta contra a especulação imobiliária e pela preservação do patrimônio natural da região ressoam nas discussões atuais sobre turismo sustentável e uso racional dos recursos hídricos. Os ideais de Amena Mayall continuam a inspirar ações em Cabo Frio. 


Se antes se falava em “SOS Dunas”, hoje o vocabulário é de resiliência climática. O saneamento básico é a primeira linha de defesa contra os impactos do aquecimento global, garantindo drenagem adequada e evitando a contaminação em períodos de chuva intensa.


A memória de Amena Mayall permanece viva não apenas nas homenagens oficiais, mas também na prática cotidiana de cidadãos que seguem defendendo o meio ambiente. A condução do saneamento em Cabo Frio integra o poder público local, a concessionária, órgãos reguladores, sociedade civil e instâncias regionais de governança hídrica, buscando mais eficiência, transparência e sustentabilidade às ações. Sua luta por um saneamento básico de qualidade e por justiça ambiental continua a inspirar ações em Cabo Frio e na Região dos Lagos


O Contraste Geográfico: 


A reportagem se encerra com a visualização do contraste geográfico entre os dois cenários centrais da narrativa: a luta pela preservação e o desafio da infraestrutura e saneamento básico.


Fonte das Imagens de Satélite e Street View: Google Maps

Fonte das Imagens de Satélite e Street View: Google Maps


 
 
 

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